Movimentos, ONGs e “think tanks” tomam a frente das transformações urgentes, apresentando dados e fomentando discussões para além do campo político-ideológico.
Estruturas engessadas, burocracia e demora na tomada de decisões são características típicas do poder público e de determinadas corporações que não condizem com o que a sociedade e o mercado demandam. Com a velocidade do surgimento de novos modelos de negócios e novas necessidades sociais, as mudanças precisam ser rápidas, ou, caso não se adaptem no mesmo ritmo, as estruturas atuais correm o risco de colapsar – não só empresas, mas também governos.
É um mundo hiperconectado, complexo e que cada vez mais questiona os papéis das instituições. A tecnologia e as redes sociais transformaram o cenário de maneira nunca vista, o que torna o contexto ainda mais difícil de ser navegado.
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As pessoas exigem que entidades públicas e privadas funcionem com agilidade, por isso têm surgido movimentos da sociedade organizada para levantar bandeiras urgentes, difundir ideias e pressionar pelas transformações necessárias, fomentando discussões que vão muito além do campo político-ideológico.
MOVIMENTO CIDADANIA COLETIVA
Entre esses grupos, se destacam ONGs, “think tanks” (ou laboratório de ideias) e movimentos de grupos civis. Um exemplo no Espírito Santo é o Movimento Cidadania Coletiva (MCC), iniciativa pioneira para organizar a sociedade e participar dos processos de desenvolvimento econômico, social e cultural do Estado, a partir de ideias, debates e ações entre pessoas, organizações, grupos civis e instituições.
A primeira ação de mobilização e engajamento do MCC foi a campanha #AReformaInteressa, voltada para proporcionar um ambiente saudável e favorável de discussão sobre a reforma da Previdência, a partir de um diálogo transparente, acessível e conectado às pessoas e às novas formas de comunicar, sem entrar no campo do enfrentamento político.
O movimento reuniu 67 instituições apoiadoras e a participação de 22 veículos de comunicação. Realizou evento de lançamento com palestra, 15 rodas de conversa com equipes e empresários e criou cinco canais próprios de comunicação para a campanha – site, Facebook, Instagram, Twitter e WhatsApp –, que alcançaram 4,4 milhões de usuários e geraram mais de 87 mil interações.
Ao tornar o assunto próximo das novas formas de diálogo, a campanha ajudou a criar uma ambiência favorável ao tema. As discussões com informações e embasamento foram um dentre inúmeros outros motivos que propiciaram as votações em favor da reforma – 80% na bancada federal capixaba na Câmara dos Deputados e 66% entre os senadores capixabas.
ONGS
Organizações Não-Governamentais (ONGs) também são exemplos de como a sociedade tem se organizado para cobrar uma postura de transformação. É o caso do Todos Pela Educação, uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos e suprapartidária que tem o propósito de impulsionar a qualidade e a equidade da educação básica no Brasil.
Eles definem sua atuação como focada em contribuir para o avanço das políticas públicas educacionais, buscando criar senso de urgência para a necessidade de mudanças. Funcionam de forma independente – ou seja, sem recursos públicos –, contando com 16 mantenedores e 14 apoiadores, entre nomes como Fundação Lemann, Instituto Natura, Itaú Social, Gol e Suzano.
O Todos Pela Educação se pauta pela mobilização de atores-chaves e relacionamento com a imprensa; produção de conhecimento técnico (elaboração de diagnósticos com base em dados oficiais, estudos e pesquisas); articulação com o poder público e instituições do setor; e o monitoramento público de resultados das políticas educacionais.
THINK TANKS
Na mesma linha de disseminar ideias que estavam em falta no debate público e ajudar a modernizar a agenda política, social e econômica, os “think tanks” ganham espaço e importância mundo afora, influenciando decisões políticas e a opinião pública.
Os “think tanks” podem ser governamentais (para produzir conhecimento sobre temas estratégicos, como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea), ideológicos (com estudos voltados para conquistar apoio a determinadas visões de mundo) e científicos (centros de pesquisa criados, geralmente, por universidades, como a Fundação Getúlio Vargas – FGV).
São organizações de pesquisas sobre políticas públicas capazes de apresentar recomendações a atores políticos e preencher lacunas de conhecimento para aprimorar as ações em áreas importantes para o bem-estar coletivo, segundo a Universidade da Pensilvânia, que publica anualmente um relatório com os “think tanks” mais relevantes mundialmente.
No relatório mais recente, publicado em janeiro deste ano com dados referentes a 2018, o Brasil ocupa o 11º lugar no ranking dos países com o maior número de “think tanks”, somando 103 entidades. Os Estados Unidos lideram, com 1.871.
O País tem 29 citações em 34 dos diversos rankings presentes no relatório, como os mais relevantes da América do Sul e Central, políticas para meio ambiente, ciência e tecnologia, afiliados a partidos políticos e pesquisa transdisciplinar.
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) aparece como uma das mais relevantes no mundo, figurando em 21 rankings. Entre eles, ocupa o 7º lugar nos “top think tanks” do mundo exceto Estados Unidos; 1º nas Américas do Sul e Central; 1º entre os mais bem gerenciados do mundo; 5º em políticas sociais; e 14º em políticas econômicas.
Outros bem cotados são o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), com 16 citações; o Brics Policy Center, da PUC-RJ, que aparece em 12 rankings; A Fundação Armando Alvares Penteado (Faap); o Ipea; e o Instituto Millenium.