Empresas de pequeno e médio portes buscam saídas para se reinventar e encarar a crise provocada pela Covid-19
Ano passado, a aceleradora de startups Azys Inovação iniciou um piloto com sete empresas de médio porte para testar uma nova ideia: o Programa de Inovação Corporativa. Com a proposta de levar a inovação para dentro da companhia, o programa começou a ser implantado em mais 14 empresas no início de 2020, e, então, veio a Covid-19. “Muitas empresas puxaram o freio de mão quando surgiu a Covid. Essas mesmas empresas voltaram depois, porque à medida que tiveram mais informações procuraram reinventar o negócio”, conta o fundador e CEO da Azys, Denis Ferrari.
Ferrari explica que a pandemia trouxe um senso de urgência sem precedentes. “Trabalho com inovação há seis anos e nunca tinha visto algo assim. A quantidade de investidores aumentou. A inovação passou a ser necessidade, seja para a melhoria da empresa, seja para descobrir como passar por essa Covid e sobreviver depois”, revela.
Inicialmente voltado apenas para as médias empresas, o Programa de Inovação Corporativa abriu as portas também para as pequenas. “Com a crise fomos procurados por muitas pequenas empresas que queriam inserir a inovação em seus negócios. Fizemos uma pivotagem para o modelo de negócios deles, e agora o programa é para a qualquer tamanho de empresa”, explica Denis.
A crise do coronavírus retirou também as limitações do ponto físico, e toda a abordagem da Azys tem sido feita de forma online. “Passávamos dias dentro de uma empresa e hoje não estamos indo. Conseguimos fazer o que fazíamos antes em eventos programados”.
Mudança de cultura
O processo de implantação do Programa dentro das empresas passa por três etapas. No entanto, a chave para que a inovação de fato funcione é a mudança de cultura nas companhias. “A cultura vai geralmente contra a liderança. Há empresas baseadas numa cultura que não é de startups, e que tem uma hierarquia muito forte. Temos que ir quebrando essas cascas. Precisamos ter um ambiente seguro para que as pessoas possam expor suas ideias, pontos fracos, e assim o colega do lado pode sugerir alguma solução. A inovação permite conhecer os líderes, e faz parte da cultura não julgar. Às vezes um funcionário tem boas ideias, mas precisa de oportunidade para aparecer”.
O programa é para quem não tem nada de inovação na empresa e quer começar. “Para uma empresa trabalhar com inovação, tem que entendê-la como estratégia. Primeiro fazemos uma análise do negócio, que é gratuita. Então vem o disgnóstico inicial, um pente fino para entender onde a empresa está e onde pode chegar”, detalha Denis.
O trabalho nas empresas ocorre em três fases. A primeira é a abordagem à diretoria, que passa a conhecer a cultura de inovação: nela existe aprendizado, não existe certo e errado, e a gestão precisa ser horizontal, isto é, as ideias podem vir de qualquer pessoa. Nessa etapa ocorre o diagnóstico inicial.
Num segundo momento, os resultados do diagnóstico são compartilhados com a empresa toda. Os funcionários, nesta fase, são todos envolvidos na inovação. Começa aí o surgimento de ideias e o processo de validação, que vai mostrar quais ideias podem realmente funcionar. As figuras dos líderes passam a aflorar em meio a esse processo. “Quem inova é a pessoa que pega a ideia e transforma em resultado. Os líderes da empresa são orientados para entender a metologia, a forma de pensar, e aplicar no dia a dia. Esses lideres são escolhidos a dedo. É importante para os funcionários quando veem alguém de dentro da casa liderando a inovação”, pontua o CEO.
Já a terceira parte do programa propõe a cultura pela convivência. Com os projetos tomando forma e com times formados, tem início uma troca de práticas com as startups da Azys. O momento é ainda oportunidade para ligar startups às dores da empresa, num processo de inovação aberta. “A gente cria, analisa e coordena projetos inovadores o tempo todo. Podemos, assim, identificar startups capazes de trabalhar com os desafios dessas empresas”, salienta Denis.