Algo está transformando o mundo das artes e suas formas de reprodução e monetização. É o NFT – sigla para “Non-Fungible Token”. Uma espécie de certificado digital que tem chamado a atenção de autores e criadores de conteúdo.
Os NFTs permitem que mídias digitais como músicas, imagens, memes ou gifs, vídeos e artes digitais de qualquer tipo sejam compradas e vendidas como itens colecionáveis através da tecnologia blockchain.
No mercado musical, por exemplo, novos negócios baseados na tecnologia NFT estão surgindo para intermediar artistas e público e para permitir que qualquer pessoa possa receber uma fração dos royalties de determinada música.
Tendência
A novidade é uma tendência no mundo inteiro. Evidência disso é o volume de buscas no Google sobre o assunto. Como mostra o Google Trends, o pico geral de buscas acontece em março deste ano – pouco antes disso, a procura não existia.
Cena local

No Espírito Santo, alguns músicos e representantes do setor começam a tomar conhecimento sobre essa nova tecnologia. O cantor e compositor Amaro Lima recebeu a notícia com surpresa. “É um desejo de muitos artistas essa forma de registro digital, onde é possível ter os direitos de uma obra a partir de uma reprodução”, avalia.
Amaro diz que o impacto no mercado da música foi imediato, e cita o exemplo do grupo norte-americano Kings of Leon, que vendeu as masters de seu novo disco como NFT.
“É um novo produto, onde os artistas estão se movimentando para oferecer ao público. E como é uma situação muito nova, ainda é preciso estudar todas as possibilidades”

Outro representante da música do Espírito Santo que aprovou a novidade é o cantor e compositor André Prando. “Ouvi a notícia através do (músico paulista) André Abujamra. Eu ainda quero me informar melhor, mas entendo a revolução que isso representa”, destaca, valorizando a autonomia que a NFT traz para o artista.
Para Prando, a ferramenta melhora a forma de monetização artística . Ele acha que o mercado capixaba tende a aderir à inovação.
“Acredito sim, que nós no Espírito Santo, após nos informarmos melhor, poderemos utilizar esse novo método”

João Depoli, músico, fundador e editor do site Inferno Santo, acredita que a novidade vem para ficar. “A indústria da música sempre esteve atrelada a transformações. Hoje vivemos a era do streaming, embora ainda exista uma discussão sobre o pagamento de royalties nessas plataformas. Diante disso, surgiram as NFTs, que trouxeram resultados impressionantes para artistas como 3LAU e Grimes, que faturaram alguns milhões de dólares em leilões digitais de seu trabalho”, explica.
Ele conclui lembrando de quem ganhou milhões em apostas inovadoras como essa: “Lembro quando o 50 Cent lançou o disco ‘Animal Ambition’, em 2014, e o colocou à venda por uma fração de bitcoin. Ninguém o levou muito à sério. O disco arrecadou 700 bitcoins e a subida da criptomoeda acabou lhe rendendo US$7,8 milhões.”
“Não sei se as NFTs trarão resultados importantes para todos os níveis de artistas, mas definitivamente é algo a se ficar de olho”
Como funciona?
O NFT é uma espécie de selo de autenticidade digital. Qualquer arquivo digital, como uma foto, pode ganhar uma sequência de dígitos e tornar-se um item registrado via blockchain. A isso chamam de ‘tokenizar’ um ativo.
A pessoa proprietária deste token passa a ser a única a ter o registro de originalidade do arquivo, ainda que um bilhão de pessoas tenham a cópia dele. A sua cópia, neste caso, torna-se a única original.
Ao criar essa escassez, abre-se mercado para compradores e, principalmente, colecionadores de todos os tipos. É possível ter o atestado de originalidade de uma cena esportiva, por exemplo. Desta forma, os ativos tokenizados tornam-se mercadorias com valor determinado pela lei de oferta e procura.
Em fevereiro deste ano, o gif Nyan Cat, um clássico da internet e muito popular nos Estados Unidos, foi leiloado por R$3,19 milhões – 300 Ether na plataforma de criptoarte Foundation – uma entre outras plataformas online que permitem a comercialização direta entre artistas e clientes compradores de obras digitais, como a SuperRare, a Zora e a Nifty Gateway.

Oportunidades
O mercado brasileiro já entendeu as oportunidades geradas pela novidade tecnológica. Um exemplo disso foi o lançamento da startup Brodr – um marketplace de ativos musicais com NTF. Ela é formada, entre seus sócios, por Márcio Buzelin, tecladista da banda Jota Quest.
Nascida em Belo Horizonte, a empresa paga uma parte minoritária de um ativo musical e o fraciona em pequenos pedaços, chamados music shares, e usa a tecnologia NFT para criar a certificação digital desses contratos.
Em maio deste ano, a empresa comemorou a venda de 100% das 7 mil cotas de seu primeiro projeto, com catálogo incluindo dois artistas de música gospel e o DJ LOthief.
Os NFTs têm a capacidade de mudar a própria natureza da mídia digital, permitindo que os artistas eliminem intermediários financeiros e lucrem com seu trabalho atuando em nichos da cauda longa.
Depois que um arquivo é codificado como NFT, ele se torna extremamente difícil de derrubar e a previsão é de que ele exista enquanto a tecnologia blockchain existir.