Por Gabriela Brito, participante da oficina de Jornalismo Innovation Writing, realizada pelo WhitepaperDocs em parceria com Sebrae-ES, Sicoob e Hub Fucape.
Engana-se quem acha que o mundo corporativo, tecnológico e inovador é reservado aos homens. Apesar da predominância masculina, é inegável que as mulheres têm ganhado cada vez mais espaço no mercado de trabalho e na produção científica e tecnológica.
O ESX 2021 – Espírito Santo Innovation Experience, o maior evento de inovação do Estado, evidenciou essa realidade. No evento promovido pelo Sebrae/ES, com co-realização do governo do Estado e apoio da Mobilização Capixaba pela Inovação (MCI), a participação feminina, tanto como público quanto como expositoras e palestrantes, foi expressiva.
Iorrana Pupa, especialista em marketing e experiência do cliente, realizou um trabalho de escuta com os participantes, organizadores e público do evento, buscando entender suas experiências e as expectativas sobre o ESX. Ela observou que a aderência feminina foi bastante satisfatória.
“Eu vi uma presença feminina e fico muito feliz com isso. Inclusive, é com uma certa representatividade, né? A gente teve a Priscila, do Instituto Das Pretas aqui, e eu acho que já passou da hora de a gente ocupar esses espaços”, comentou.

Ao falar sobre representatividade feminina no mercado de trabalho, Iorrana retoma na história os motivos que fizeram com que os homens ocupassem esse lugar. “Na época da revolução industrial, onde se começou a estudar os processos e a forma de trabalho, o modelo era o homem, porque era o homem que estava nesse processo produtivo”, explicou.
À mulher, sempre foram reservados os espaços privados e os trabalhos de cuidado. “A mulher foi criada para cuidar da família, e quando ela vai para o mundo dos negócios ainda existem muitas barreiras”, acrescentou Iorrana, que também é empreendedora e precisa superar esses desafios no seu cotidiano.
Entre as 18 startups expositoras do ESX 2021, quatro mulheres ocupavam a posição de sócia-fundadora ou CEO. Já é um avanço, mas ainda é um número que mostra como o mundo corporativo é desigual.
“Acho que empreender para a mulher é muito diferente do que empreender para o homem. A mulher se preocupa com determinadas coisas que nem passam pela cabeça dos homens”, observa Iorrana.

A empreendedora e ex-professora de robótica Neide Salim é a CEO da Vixsystem e a desenvolvedora da Lysa, um robô que auxilia na locomoção de pessoas com deficiência visual. Além dos convencionais desafios do ramo, Neide conta como ainda é preciso ultrapassar a barreira da desigualdade de gênero no meio da robótica.
“Existe uma barreira estrutural que impede a entrada das mulheres. Infelizmente, a gente não tem tanta representatividade, onde a gente consegue se enxergar, né? Sempre tem, realmente, muitos desafios, descredibilidade do trabalho. Você tem que sempre estar andando com o currículo debaixo do braço, provando sua capacidade de desenvolvimento”.
Marco de Jesus, um dos prestadores de serviço do Seabre-ES responsável por organizar e receber as pessoas na Arena Gamer, contou que, apesar da disparidade, existe representatividade feminina no desenvolvimento de jogos capixabas.
“Há uma mulher que desenvolveu um jogo aqui e ajudou a desenvolver vários outros. Eu acredito que hoje em dia já está bem equiparado e que no futuro próximo não vai ter mais essa desigualdade que existe ou esse pensamento que as pessoas ainda têm”, comenta Marco.

As novas gerações de meninas também já estão dando o que falar ao marcar território no mundo do desenvolvimento tecnológico. Fidel Prando, proprietário da franquia da Ctrl+Play, de Vitória, uma escola de Programação e Robótica que, em parceria com o Sebrae-ES, promoveu oficinas de programação e robótica no ESX 2021, contou que a participação feminina durante o evento foi expressiva.
“Apesar da predominância masculina, eu tive turmas aqui que tiveram até mais meninas, principalmente nas oficinas para as crianças mais novinhas, onde a nossa metodologia trabalha com Roblox. Então, com essa ferramenta em específico, te digo que às vezes até a predominância feminina é maior”, avalia Prando.
Ele conta que, atualmente, os pais não têm mais esse preconceito. “Eu sinto que, para eles, a programação não é coisa de menino, já é para todos os sexos. Deu para ver pela presença no evento que as crianças também já tão entrando com essa sabedoria”, complementou Prando.

Na academia, as estudantes também se destacaram ao apresentar projetos desenvolvidos nas universidades. A estudante de Engenharia Civil Rafaela Rigo, diretora-geral do Projeto Solares, um projeto de extensão multidisciplinar da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), diz que a experiência de ser uma mulher que estuda no centro tecnológico da universidade ainda é difícil. “É um desafio, mas a gente consegue. Indo para a frente, se unindo e conseguindo, de fato, colocar nossa opinião. É um desafio, mas é possível“, comentou Rafaela.
“Inovação para mim é isso: é fazer algo que tenha sentido para todos. Tomara que as mulheres ocupem muito espaço. Porque o fato de ter mulher também semeia isso. Semeia uma nova possibilidade de fazer as coisas, de criar um novo olhar. Que as mulheres não se rendam ao olhar do patriarcado”, conclui Iorrana Pupa.