Por Thiago Borges, participante da Oficina de Jornalismo realizada pelo WhitepaperDocs em parceria com o Sebrae-ES
A Feira do Empreendedor 2022, realizada no Parque de Exposições de Carapina entre os dias 12 e 17 de julho, pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae-ES), proporcionou ao público uma imersão no mundo dos empreendimentos, com oportunidades para quem deseja empreender ou estava em busca de aperfeiçoamento. Uma das oportunidades apresentadas no evento foi a do cooperativismo e a relação com os empreendimentos, promovendo conhecimento acerca das conquistas, impactos e desafios.
Para saber mais sobre o papel das cooperativas e a relação com os empreendimentos, o WhitepaperDocs entrevistou Carlos André de Oliveira, gestor empresarial, superintendente do Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras do Estado do Espírito Santo (OCB-ES) e presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-ES. O superintendente é figura de liderança no setor e carrega consigo a bandeira do cooperativismo e seus princípios, em prol da colaboração, transparência e ética.
WhitepaperDocs – O que é o cooperativismo?
Carlos André de Oliveira – Cooperativismo é um movimento que vem da formação das cooperativas. As cooperativas da forma que nós conhecemos hoje, no mundo, surgiram no final do século XIX, na Inglaterra. Foi a primeira cooperativa na concepção que conhecemos hoje, que é uma sociedade de pessoas físicas, uma empresa que pertence a várias pessoas físicas – no Brasil, são necessárias no mínimo 20 pessoas físicas. Então, 20 pessoas físicas constituem uma cooperativa e são donas de um CNPJ. Toda cooperativa, até mesmo as de grande porte que nós conhecemos hoje, como Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi), Confederação Nacional das Cooperativas Médicas (Unimed), a Cooperativa de Laticínios Selita, Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi) e cooperativa de laticínios de Nova Venécia (Veneza), essas cooperativas surgiram pequenas, com 20 ou 30 pessoas. Depois agregam dezenas, centenas ou milhares de associados que se tornam, juntos, donos de um CNPJ, que é a cooperativa.
– De que forma o cooperativismo se relaciona com o empreendedorismo e o que um tem a ver com o outro?
Eles são irmãos gêmeos. Cooperativismo e empreendedorismo são irmãos tanto no sentido da legislação como também na parte filosófica e prática. O empreendedorismo e o cooperativismo têm muito a ver porque empreender está na veia da pessoa. Às vezes, o empreendedorismo pode ser individual, mesmo médio, pequeno ou grande porte – o empreendedor sozinho dentro de uma empresa ou com mais duas pessoas. A diferença é que na cooperativa são dezenas, centenas ou milhares de empreendedores que formam aquela cooperativa.
– Quais as diferenças entre um empreendimento comum ou individual e uma cooperativa?
Na concepção de empreender, nenhuma diferença! Agora, legalmente, o empreendedorismo individual pertence a uma pessoa ou a um grupo de sócios. A cooperativa, no Brasil, pertence a no mínimo a 20 sócios, essa é a principal diferença. Não é uma diferença conceitual, mas de base legal.
– A cooperativa hoje pode se tornar uma franqueadora?
Sim. Hoje estamos chamando de cooperativas de terceira geração, que estão no campo da inovação e que podem tranquilamente trabalhar com franquias sem nenhuma restrição.
– Como o cooperativismo incentiva o empreendedorismo? E quais as vantagens?
Um se alimenta do outro. No cooperativismo é muito importante que os associados, colaboradores e empregados possuam espírito empreendedor para que o negócio dê certo. E o empreendedorismo também se alimenta da filosofia e da doutrina do cooperativismo. Então, um se retroalimenta com o outro e os dois juntos caminham em prol de proporcionar aos empreendedores individuais ou nos empreendimentos coletivos de cooperativas, aumento de renda, cidadania, trabalho, felicidade e oportunidades.
– Como o cooperativismo de crédito facilita o acesso de pequenos empreendedores a empréstimos para investimentos?
Cooperativismo financeiro no Brasil é o maior e melhor braço dos pequenos empreendedores. Para se ter ideia, no Espírito Santo, segundo dados do Banco Central do Brasil e do Sebrae, em 2021 o Sicoob foi o parceiro que mais financiou as micro e pequenas empresas no Estado. É um dado concreto para mostrar a todos os empreendedores como é vantajoso trabalhar com a cooperativa financeira, que tem todos os produtos e serviços de um banco, porém com taxas e condições mais adequadas para a pequena empresa e o micro empreendedor.
– Quais os impactos do cooperativismo no dia a dia?
São vários, mais do que podemos imaginar. O cooperativismo está presente em nossas vidas desde quando acordamos, quando estamos fazendo o nosso café, tomando o nosso café da manhã na nossa residência ou em alguma padaria, alguma lanchonete, ali tem vários produtos oriundos de cooperativas capixabas ou cooperativas brasileiras, produzidos em sua grande maioria por pequenos proprietários rurais da agricultura familiar. Daí você, às vezes, vai pegar para trabalhar um ônibus que pertence ao transporte de cooperativa, uma van de uma cooperativa. Quando você vai se relacionar com sua habitação, no Espírito Santo, por exemplo, você tem cooperativas habitacionais ligadas ao Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais (Inocoop), então o seu primeiro imóvel ou o primeiro imóvel da sua família pode começar através de uma cooperativa habitacional. Você pode movimentar e poupar seus recursos através de cooperativa financeira. Pode ter seu plano de saúde ou plano odontológico como uma cooperativa de saúde ou uma cooperativa odontológica. O cooperativismo está presente no dia a dia das pessoas mais do que elas podem imaginar.
– Qual o atual cenário do cooperativismo no Espírito Santo? E quais são os principais dados, conquistas e desafios?
Hoje no Espírito Santo, somos em 119 cooperativas, reunindo 650.000 associados, e as cooperativas geram 9.500 empregos diretos. Com relação à participação no PIB, na base de dezembro de 2020, nós representávamos 4,7% do PIB capixaba. Os dados de 2021 nós não temos ainda, mas há uma expectativa que a gente tenha ultrapassado 5% do PIB do Estado.
Das principais conquistas do cooperativismo aqui no Espírito Santo, nós somos muito importantes para os produtores rurais, os pequenos produtores rurais que podem contar com suas cooperativas agro para produzirem melhor, para terem acesso a assistência técnica, acesso a estocagem e acesso à comercialização dos seus produtos. Então, as cooperativas agros do Espírito Santo têm se destacado de forma muito positiva. E o cooperativismo financeiro e de saúde também têm tido um crescimento exponencial, cada vez tendo um percentual maior aqui na sociedade, no mundo financeiro do Espírito Santo.
Inclusive, é importante registrar para vocês que o Sicoob é o maior grupo empresarial do Estado, segundo a relação da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) e do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), data base de 2020. O maior grupo genuinamente capixaba é de uma cooperativa financeira, que é o Sicoob. A maior operadora de plano de saúde suplementar, há mais de 25 anos no estado do Espírito Santo, líder de clientes, é uma cooperativa, a Unimed. Cooperativa no Espírito Santo está em franca expansão em diversas áreas. Inclusive agora no setor de energia fotovoltaica, energia renovável, nós temos a cooperativa Circus, que está se expandindo e com certeza vamos fazer um belíssimo trabalho no campo de energia fotovoltaica no Estado.
– Qual a importância de eventos como a Feira do Empreendedor para o cooperativismo?
Importantíssimo. Seja para quem já é empreendedor, para quem quer empreender ou para as cooperativas. É importante essa simbiose, essa sinergia para que ambos possam crescer e avançar no Estado.