Por Camila Borges, participante da Oficina de Jornalismo realizada pelo WhitepaperDocs em parceria com o Sebrae-ES
Embora o cenário tenha mudado nos últimos anos, mulheres ainda enfrentam grandes desafios para ocupar espaços de liderança no mercado. A começar pela própria estrutura social desigual, que leva a mulher a executar a chamada tripla jornada de trabalho. Os cuidados com a carreira profissional, com a família e com a casa sobrecarregam e, em muitas situações, as impedem de alcançar cargos superiores.
Além disso, há a própria desvalorização do trabalho feminino: colocado em dúvida constantemente com base em estereótipos, a adjetivação da mulher como “fraca” ou “emocional” para ocupar determinados postos ainda é amplamente difundida na sociedade.
É o que explica Cris Samorini, primeira mulher a ocupar o cargo de presidente de uma federação de indústrias em todo o Brasil. Em palestra realizada na Feira dos Empreendedores do Sebrae-ES, com o tema Liderança Feminina, a presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) contou como em diversas vezes durante sua trajetória ela foi questionada pela sua capacidade:
“Na parte da liderança, na minha trajetória na disputa da eleição, muitas vezes falaram que como eu era mulher eu não ia ter condição de segurar um debate para defender o interesse da indústria perante o ambiente político de uma Assembleia Legislativa, por exemplo. Na minha campanha houveram tentativas fortes.”
O Brasil é o sétimo país com o maior número de mulheres empreendedoras do mundo, segundo dados do Global Entrepreneurship Monitor 2020 (GEM) — principal pesquisa sobre empreendedorismo no mundo. E o que não falta são mulheres dispostas e com habilidades e qualificação suficientes para estar à frente dos negócios, mesmo sendo questionadas.
Um grande exemplo e inspiração é Fernanda Voloski, advogada há sete anos, mas quase sempre atuando em outros escritórios. Após tantos anos na área, ela começou a se incomodar cada vez mais com o pouco reconhecimento e valorização que estava recebendo. Foi então que, há um ano, decidiu sair da empresa em que trabalhava para montar seu próprio escritório de advocacia.
Como mulher em cargo de liderança, seu principal desafio tem sido se estruturar e aprender outras áreas além da própria advocacia: “O desafio é sair só da parte operacional. Além de atender clientes, é entender que eu tenho todos os braços: a gestão empresarial, comercial, marketing. É muita coisa, mas está sendo um desafio bacana”, contou.
Sobre ações que podem ser tomadas na prática para inserir mais mulheres na indústria e nas empresas de uma forma geral, Cris cita a importância do posicionamento frente à desigualdade: “Hoje, quando eu tenho oportunidade, em algum evento que eu não vejo mulher, eu já me incomodo. Então eu sempre falo que está faltando. Se precisar, eu até ligo e reclamo”, afirmou.