Por Camila Borges, participante da Oficina de Jornalismo realizada pelo WhitepaperDocs em parceria com o Sebrae-ES
Os impactos ambientais provocados pela ação humana são tema de discussões intensas em grandes convenções mundiais, principalmente nos últimos 50 anos. Os países têm discutido e buscado soluções para os grandes desafios da humanidade em relação à questão ambiental: mudanças climáticas, agricultura sustentável, energias limpas e segurança alimentar, por exemplo.
Sabe-se que a agricultura é um dos setores que mais utiliza recursos naturais, principalmente água e solo. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a agricultura é o setor responsável por consumir a maior quantidade de água no mundo, utilizando uma média de 70% de toda a água disponível. Conforme as projeções da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o consumo de água no Brasil, incluindo todos os segmentos, deve aumentar em 24% até 2030, e esse aumento se dará impulsionado pelo setor agropecuário.
Dentre outras soluções, as fazendas urbanas e verticais foram idealizadas com o objetivo de tentar reduzir os danos provocados pelo agronegócio. O termo fazenda vertical foi cunhado pela primeira vez em 1999 pelo biólogo Dickson Despommier, da Universidade de Columbia, em Nova Iorque.
Fazendas verticais são espaços destinados à produção de alimentos em camadas verticais, próprios para grandes centros urbanos que não possuem mais espaço suficiente para a agricultura tradicional. Despommier incentiva a instalação desse modelo como uma alternativa para erradicar a fome.
As vantagens desse modelo são a possibilidade da integração de tecnologias renováveis (painéis solares, turbinas eólicas, sistemas de captura de água etc.) e a redução da emissão de carbono atmosférico e custos energéticos, visto que, por já estar dentro da cidade, o transporte de alimentos aos consumidores.é facilitado. Além disso, diminui a necessidade de adquirir novas terras agrícolas, o que proporciona a economia de recursos naturais, ameaçados de desmatamento e poluição.
Toda fazenda vertical é urbana, mas nem toda fazenda urbana é vertical. É possível criar ambientes artificiais hermeticamente fechados, com tecnologias próprias para o cultivo nas cidades, sem necessariamente ser uma estrutura vertical. É o caso da Cooltiva, fazenda urbana localizada na cidade de Vitória, no Espírito Santo.
Fazenda Urbana em Vitória
Nas estufas da Cooltiva, localizadas no bairro Praia do Canto, em Vitória, é possível ver uma plantação diferente do convencional, pois não há solo algum. As folhas de alface, agrião, espinafre, manjericão, beterraba, mostarda, coentro e couve são cultivadas na água. A esse sistema dá-se o nome de hidroponia.
As raízes das plantas ficam dentro de um sistema suspenso que possui água abastecida com uma solução nutritiva que alimenta as plantas. A solução que fica dentro da água reproduz o que na agricultura tradicional seria encontrado no solo. Por meio dessa tecnologia, pode haver uma redução de até 90% do consumo de água em relação ao cultivo no solo. O sistema utiliza a luz solar natural e necessita de ventiladores no local para épocas do ano em que as temperaturas estão mais altas.
A advogada Hanna Leocadio e o engenheiro químico Luiz Gustavo Leocadio se mudaram do Rio de Janeiro para Vitória durante a pandemia. Quando chegaram à capital capixaba, sentiram falta de alguns produtos que encontravam com facilidade no Rio, mas que por aqui eram mais difíceis de conseguir. A partir daí tiveram a ideia de montar um negócio e, após algumas pesquisas, decidiram pelo modelo de uma fazenda urbana agregada a um mercado onde vendem produtos naturais e orgânicos.
“O produto é muito fresco, porque nós colhemos para o cliente na hora. Então esse lapso temporal de sair do produtor, passar pelo centro de distribuição e chegar até nós não existe mais. Com isso, a gente acaba reduzindo a emissão de gases, pois não é necessário transporte”, contou Hanna sobre as vantagens do modelo.
Nos últimos tempos, a Cooltiva tem recebido grupos de crianças para visitar a estufa e conhecer a produção dos alimentos. O passeio é enriquecedor pois permite que desde cedo os menores tenham a possibilidade de semear, regar e colher as hortaliças e serem estimulados a consumir também.
Segunda Hanna, a visita resulta em vários aprendizados: “As crianças se permitem experimentar a folha. Eu sempre falo que elas não vêm aqui para experimentar nem para comer, elas vêm para se divertir. Experimentar a folha é uma consequência da atividade. Ela vai na estufa, ela vê uma alface pequena, ela vê uma alface grande, ela toca, ela cheira o manjericão. Então esse processo desperta naturalmente nelas o desejo de provar os alimentos”, afirmou.
Produção orgânica
Os proprietários tomaram a decisão de não utilizar agrotóxicos, e essa escolha requer um controle sanitário maior, higienização de mãos e pés dos visitantes, dentre outros cuidados para que as pragas não se proliferem. Por ser um ambiente controlado, é mais fácil manter uma produção agrícola livre de agrotóxicos nesses espaços. Os vegetais não ficam tão expostos às mudanças climáticas ou mesmo à ação de insetos
A agricultura livre de agrotóxicos traz desafios, principalmente quando se quer produzir em larga escala. No entanto, faz parte da proposta do empreendimento oferecer produtos naturais e orgânicos para o consumidor. Para auxiliar na logística da plantação, o casal conta com uma consultoria e dois engenheiros agrônomos que preparam a solução nutritiva e acompanham o desenvolvimento das plantas.
A meta é proporcionar uma experiência única para os clientes: “Nosso objetivo é que a pessoa venha aqui para ter uma experiência. Não queremos ser só um lugar em que ela vai comprar uma berinjela, por exemplo. Queremos que ela possa trazer o filho, que ela dê ao filho dela essa experiência de saber de onde vem a comida. Queremos que ela encontre aqui os produtos do dia a dia e que consuma aqui os produtos que acabaram de ser colhidos. Também fazemos aulas de ioga, pois o objetivo é criar um estilo de vida mais saudável como um todo”, concluiu.
Caso o cliente deseje visitar a estufa, em especial, é necessário agendar um horário. Para mais informações, acesse o Instagram da Cooltiva (@cooltiva.fazendaurbana).