Por Nicolas Nunes, participante da Oficina de Jornalismo realizada pelo WhitepaperDocs em parceria com o Sebrae-ES
Há alguns anos, quem quisesse se candidatar a uma vaga de emprego precisava redigir o currículo, imprimir, colocar dentro de uma pasta e se deslocar até a empresa almejada para entregar o documento. As redes sociais até ajudavam, mas o contato presencial era indispensável.
Nos dias de hoje, esse padrão está se alterando e empresas inovadoras estão utilizando robôs para filtrar currículos de candidatos em seletivas que chegam a contar com milhares de inscritos. Uma dessas empresas é a capixaba WillBank, um banco digital que faz a triagem inicial dos candidatos por meio da Gupy, uma plataforma de gestão de candidatos que utiliza inteligência artificial.
Isabelle Motta, de 27 anos, é gestora de produtos de RH (task manager) na WillBank e desenvolve projetos de recrutamento, seleção e atração de talentos. Ela conta que a plataforma avalia os candidatos por meio de uma análise de comportamento e de palavras-chave no currículo.
“A Gupy é incumbida da primeira parte da nossa seletiva. Ela aplica um teste de comportamento no candidato e analisa o currículo por meio do cruzamento de palavras-chave que estejam presentes na descrição da vaga disputada. Ao final desse processo, o candidato é colocado em uma posição de um rank gerado para cada tipo de vaga. Não existe apenas um ranqueamento para todas as vagas ofertadas. E a privacidade é respeitada no processo, porque a única informação que nós, recrutadores, enxergamos é um número, a posição alcançada pelo candidato no rank. As respostas das pessoas e informações sensíveis, como a etnia e a orientação sexual, não são passadas para nós”, explicou.
Com bases nos estados do Espírito Santo e São Paulo, o banco digital conta com integrantes de todas as regiões brasileiras e até membros de outros países, já que o trabalho é realizado totalmente à distância.
Um candidato que passou pela triagem da Gupy e obteve sucesso nas outras etapas de seleção foi Brenno Scarpino, de 27 anos, que é analista de caixa júnior na WillBank há 1 ano e 6 meses.
O “Willer”, como os colaboradores da WillBank são chamados, enxerga positivamente o uso de robôs em processos seletivos e acredita que a iniciativa pode até gerar inclusão de pessoas pretas, LGBTQIAP+ e pessoas com deficiência.
“Meu processo foi tranquilo, a plataforma sinalizava meu desempenho nos testes e durante as etapas. Então a transparência de cada etapa, a centralização das informações a respeito da vaga e a estimativa de concorrentes facilitam para o candidato. Acredito também que esse tipo de plataforma pode ajudar a gerar inclusão, caso a empresa faça ações afirmativas”, afirmou.
As plataformas automatizadas que filtram candidatos por meio da análise de palavras-chave em currículos aumentam a celeridade de processos seletivos. Mas ainda que seja excepcional, a inteligência artificial não substitui a inteligência do bom profissional.
“É muito importante usar a dinâmica de ranqueamento para agilizar o processo, porque é impossível para os recrutadores analisar cada currículo enviado com qualidade, já que algumas vagas chegam a receber milhares de inscrições. Porém, a inteligência humana nunca vai ser substituída. Após a disponibilização do rank, não dá para acreditar cegamente no robô e chamar o primeiro colocado. Precisamos olhar no mínimo as quatro primeiras dezenas. Esse tipo de robô não é certeiro como uma bala de prata, mas ajuda muito”, brincou.
Indagada a respeito de respostas automatizadas feitas pela máquina, Isabelle afirma que todas as mensagens de feedback são enviadas por um recrutador.
“Geralmente quem é reprovado na fase de triagem, a etapa que a Gupy é incumbida, recebe um e-mail padrão de um recrutador, porque é um volume muito grande de pessoas que estão esperando uma resposta”, afirmou.
Abrace o algoritmo, porque o “curriculum vitae” é coisa do passado
O currículo em formato “vitae” é a forma mais tradicional de apresentação profissional, mas em tempos modernos, tradição é um sinônimo para obsolescência.
Em redes sociais focadas no mercado profissional, ter uma boa apresentação e saber utilizar o algoritmo em favor próprio são qualidades que podem destacar o candidato entre outros 57 milhões.
Em entrevista ao WhitepaperDocs, a designer de carreiras Ísis Rodrigues afirmou que esse número corresponde ao total de usuários que frequentam o LinkedIn após a pandemia.
Dona do perfil “fabricadegerentes”, no Instagram, ela atuou na área de direção comercial em grifes de moda, como a Zara, por quase 30 anos. Mas tudo mudou quando ela sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e acreditava que seria descartada: “Eu sou uma mulher de 50 anos, então me preparei para ser jogada no lixo quando eu não estivesse mais jovem e bonita. Depois do meu AVC, pedi demissão, porque não aguentava mais aquela pressão. Eu já tinha uma empresa de consultoria, então juntei os 50 profissionais mais qualificados da minha rede, que já me conheciam e acreditavam no meu trabalho, fiz uma reunião e pedi para que todos me indicassem para, no mínimo, dois amigos. A partir daí, eu montei uma ‘rede amiga’ e pude ajudar outros profissionais e outras mulheres também”, contou.
“Um perfil impecável não basta. É preciso o mais importante, que é o relacionamento. Quanto a isso, robô nenhum ajuda”
Ísis afirma que o tipo de robô que atua no LinkedIn, e também na Gupy, é o sistema de rastreamento de candidatos, um software de gestão de processos de recrutamento e seleção que armazena, lê e ranqueia currículos.
“No LinkedIn o ideal é inserir 50 palavras-chave dentro do perfil, e o robô tem uma metodologia de rastreamento. Primeiro, ele lê a descrição do perfil (bio). Depois, ele rastreia a seção ‘experiência’, onde estão as informações a respeito do trajeto profissional do candidato. Por último, a máquina lê as publicações da linha de tempo do perfil, sejam próprias ou compartilhamentos”, explica.
Apesar de tudo isso, um perfil impecável não se sobrepõe a uma prática que não está nem um pouco obsoleta: cultivar os relacionamentos.
“Eu alimento o robô com muitas ações e informações para conquistar os indicadores. Mas um perfil impecável não basta. É preciso o mais importante, que é o relacionamento. Quanto a isso, robô nenhum ajuda”, enfatizou a designer de carreiras.
Confira dicas para ser bem rankeado em seleções virtuais
Muitas vezes, pode ser difícil saber como se preparar para uma seleção que será feita por uma máquina e alguns candidatos podem desanimar.
Para que isso não aconteça, confira algumas dicas que o WhitepaperDocs separou para alcançar o sucesso em processos seletivos virtuais:
1 – Leia bem a descrição da vaga almejada e não tenha preguiça, leia também as descrições da mesma vaga em outras empresas. Isso prepara melhor para concorrer a uma vaga específica.
2 – Faça cursos que se encaixem com a vaga ou a carreira almejada para inserir isso no currículo, ou descrição, e garantir um bom posicionamento nas plataformas de filtragens.
3 – Uma apresentação engessada não é vista com bons olhos, é necessário se adequar. Procure inserir, dentro da seção “experiências” da sua descrição, ou currículo, palavras-chave que façam sentido para a vaga almejada.
4 – Trabalho voluntário é um diferencial em candidatos, porque tudo é experiência.