Por Thiago Borges, participante da Oficina de Jornalismo realizada pelo WhitepaperDocs em parceria com o Sebrae-ES.
Muitos usuários do Instagram não escondem a insatisfação com os rumos que a rede social tem tomado. O app de fotos – e agora cada vez mais de vídeos – está passando por grandes transformações que têm gerado incômodo em seus adeptos, e o que se prevê para um futuro bem próximo é que ele se distancie ainda mais do propósito inicial – postar fotos para uma rede de amigos/seguidores.
A proposta é de se assemelhar cada vez mais ao concorrente TikTok, com fotos perdendo espaço para os vídeos curtos, que são priorizados pelos algoritmos. Segundo dados da análise feita pela Insider Intelligence, a previsão é de que o TikTok alcance a marca de 755 milhões de usuários ativos mensais ainda em 2022, tendo em vista seu considerável crescimento em 2020, no início da pandemia, de 59,8%, e 40,8% em 2021. A pesquisa ainda apresenta que o faturamento da rede social asiática será de 11 bilhões de dólares, um aumento de 300% em relação ao ano passado.
Este fator torna o TikTok um importante concorrente das redes sociais da Meta, que sempre lideraram a lista de mídias mais utilizadas no mundo, de acordo com as estatísticas do portal Statista.
Senso de comunidade
Além da priorização dos vídeos em detrimento das fotos, o Instagram está gradativamente abrindo mão do social graph – pessoas com quem o usuário se conecta, segue ou é seguido. A ideia da Meta é permitir que o algoritmo busque conteúdo por todo o mundo e apresente no feed do usuário, independente se a página é seguida ou não por ele, assim como acontece no Tik Tok.
Hoje, aproximadamente 20% dos conteúdos que aparecem no feed dos usuários do Instagram são de páginas não seguidas, decididas pelo algoritmo dentro do que julga relevante para aquela pessoa.
Isso representa uma transformação profunda não só na forma como nos relacionamos em comunidade, mas também em muitos modelos de negócios baseados em influência, por exemplo. Tanto que, após a repercussão na internet e a pressão feita por grandes influenciadores da plataforma, como as irmãs Kim Kardashian e Kylie Jenner, a rede social de Mark Zuckerberg decidiu dar um passo atrás nas atualizações da página e atrasar o processo de mudança – mas é só uma questão de tempo para que o app tire o pé do freio novamente rumo às transformações.
Para entender melhor os impactos dessa mudança, o WhitepaperDocs conversou com Erlon Boechat, especialista em marketing digital da Buzz.me, empresa da Beta Rede, que comentou sobre as transformações que estão surgindo e a importância de a Meta aderir ao formato da vizinhança, fortalecendo o ecossistema de criadores de conteúdo.
“O impacto disso tem muito a ver com o fortalecimento dos criadores. É uma potência que vem gerando novas oportunidades e ditando as regras e estratégias de comunicação do mundo atual”, pontuou.
Mesmo com a repercussão das últimas semanas a respeito das atualizações do Instagram, Boechat reiterou que não identifica grandes mudanças teóricas a curto prazo na plataforma: “Vamos continuar a ter um feed, stories e a nos conectar com o que ou quem nos interessa”, acredita.
O que muda, de fato, são as funcionalidades disponíveis e o formato do atual concorrente – o TikTok. Erlon aproveita para relembrar que esse tipo de mudança já aconteceu antes e sempre vai acontecer, como foi com os stories, que surgiram após a viralização do Snapchat.
“Não é a primeira vez que isso ocorre e a Meta tem essa fama de aniquilar a concorrência comprando ou copiando as inovações introduzidas fora de seu domínio. Foi assim com o WhatsApp, com o Snapchat e agora é a vez do TikTok. Mas não acredito que isso mude a forma de uso do Instagram de maneira muito profunda a ponto de descaracterizar a experiência que temos hoje”, afirma.
A verdadeira mudança, de acordo com Erlon, está no senso de comunidade que era proposto no início da rede social. A tendência a partir de agora é de que a conexão ocorra com quem tem mais engajamento na criação de conteúdos digitais a partir de mecanismos de recomendação, a ponto de que o TikTok vire coadjuvante.
“Isso impacta o nosso senso de comunidade porque nos projeta para fora da nossa rede vizinha e acrescenta ao nosso universo ideias e individualidades muito distantes e, paradoxalmente, muito próximas, criando assim uma noção mais completa e globalizada de pertencimento, como acontece no Twitter e no TikTok, por exemplo”, disse.
Para quem produz conteúdo digital, isso torna a dinâmica diferente do habitual, podendo ampliar o público consumidor. Ou seja, ao invés de falar diretamente para os próprios seguidores, o influenciador poderá falar para diversas pessoas, espalhadas pelo mundo, para além do seu nicho. Por outro lado, a disputa por atenção tende a aumentar, visto que são milhares de criadores espalhados pela internet.
Mas, ainda assim, a perspectiva é de que os influenciadores ganhem mais poder de mercado, enriquecendo o ecossistema, tornando as mídias digitais cada vez mais potentes e diversas. Outra hipótese quanto aos impactos dessa atualização do Instagram é a de completa adesão das ferramentas disponíveis e as experiências do TikTok. “Também pode acontecer um aprofundamento da concorrência entre os dois, favorecendo a inovação”, alertou Boechat.
“Acredito que o cenário ainda é incerto sobre o que a empresa vai fazer e sobre o que pode, de fato, acontecer e qual o real impacto disso para os negócios baseados em estratégias de social media. Só é determinante que a influência, a recomendação e o poder dos criadores de conteúdo estão postos como peças fundamentais desse tabuleiro e isso é, de certa forma, um novo ingrediente estratégico para negócios e um caminho sem volta no marketing, no comércio e no mercado de comunicação de modo geral”, concluiu.