A startup capixaba Zero Esgoto, que transforma esgoto em água limpa, dá início ao seu projeto de expansão internacional na Singapore Week of Innovation and Technology (Switch 2022), que será realizada de hoje (25) a 28 de outubro, em Singapura. No evento, que reúne líderes, empreendedores, criadores, aceleradores e investidores, a empresa busca conexões com investidores e até mesmo instituições internacionais para a instalação do sistema inovador em países onde o saneamento básico é extremamente precário.
O acelerador da startup, Célio Sathler, contou em entrevista ao WhitepaperDocs que o propósito da Zero Esgoto é ajudar a resolver um dos maiores problemas mundiais, que está entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU): saneamento básico.
“O impacto que pretendemos gerar é resolver o problema da falta de saneamento básico, seja em qual país ou cidade que tenha esse desafio. Nós podemos melhorar a vida de centenas de milhares de pessoas ao devolvermos água limpa e tratada para o meio ambiente”, afirmou Sathler.
E esse desafio tem números superlativos. Somente no Brasil, 45% da população não têm acesso à coleta de esgoto e apenas 50,8% do volume gerado é tratado, de acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Isso significa que mais de 5,3 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento são despejadas na natureza todos os dias. No mundo todo, são mais de 4 bilhões de pessoas que vivem sem acesso a saneamento básico.
Esgoto vira água limpa em até 6 horas
A Zero Esgoto, criada em Irupi, no Sul do Espírito Santo, foi a escolhida para representar o Brasil na Switch 2022 em uma seletiva promovida pela Embaixada de Singapura no Brasil, o Itamaraty, a Apex e o Sebrae Nacional entre as startups deep techs – que desenvolvem tecnologias para solucionar os mais complexos problemas mundiais.
O sistema modulável, de fácil instalação e 100% natural utiliza a biotecnologia para transformar o esgoto em água tratada sem gerar resíduos sólidos, como lodo, e sem necessidade de manutenção, como as fossas tradicionais. A diferença está na utilização de um blend de bactérias que atuam sobre o esgoto.
“É um processo 100% natural, sem química. Essa biotecnologia transforma fezes e outros resíduos, como cabelo ou unhas, em água, por meio do processo de hidrólise. A água entra no reservatório e passa por quatro estágios de tratamento até ser filtrada e devolvida limpa para a natureza, como água classe 2, que seria o equivalente a uma água de chuva. Esse processo leva até seis horas e tem inúmeras vantagens sobre as fossas convencionais, que só retêm o esgoto, precisam de limpeza constante e podem contaminar o lençol freático”, explica Sathler.
Outras vantagens são não necessitar de energia para seu funcionamento e ser compacta, como ressaltou o CEO da Zero Esgoto, Orbino Werner. “Nosso sistema ocupa um espaço até 10 vezes menor que um sistema tradicional”, disse.
A tecnologia é modulável e pode atender tanto uma casa quanto uma cidade inteira. A vazão é dimensionada de acordo com o número de usuários. As estações de tratamento custam a partir de R$ 5.500,00 para uma casa com 12 moradores ou uma empresa com 36 usuários, por exemplo, e podem ter tamanhos personalizados.
“Já foram instaladas mais de mil unidades em diversos estados do Brasil, entre residências, prédios, empresas, indústrias e até hospitais, impactando mais de 25 mil famílias. Desde a criação da startup, em 2016, já devolvemos mais de um bilhão de metros cúbicos de água tratada para os rios”, comemora Sathler.