Por Karol Costa, participante da Oficina de Jornalismo realizada pelo WhitepaperDocs em parceria com o Sebrae/ES
Diversos estudos realizados ao redor do mundo nos últimos anos mostram uma tendência: a atual geração de jovens consome menos bebidas alcoólicas do que as gerações anteriores. No Brasil, o resultado não foi diferente. Uma pesquisa realizada de janeiro a abril de 2023 ouviu 9 mil brasileiros sobre vários fatores de risco para doenças crônicas, entre os quais o consumo de álcool.
Segundo o relatório Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em tempos de pandemia), desenvolvido pela Vital Strategies e pela Universidade Federal de Pelotas, com financiamento da Umane, 8,1% dos jovens de 18 a 24 anos entrevistados afirmaram consumir álcool regularmente. Em 2022, essa porcentagem foi de 10,5%, enquanto no período pré-pandemia o índice era de 10,7% – em ambas as ocasiões, os percentuais foram os maiores entre todas as faixas de idade.
Este é o primeiro ano que essa faixa etária não representa a maior consumidora de bebida alcoólica. Dessa vez, são pessoas entre 45 e 54 anos que estão bebendo mais que os jovens. No artigo “Why are young people drinking less than their parents’ generation did?”, para o site de notícias acadêmicas The Conversation, pesquisadores da Universidade La Trobe, na Austrália, da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, e da Universidade de Estocolmo, na Suécia, explicam o porquê dessa tendência.
“Ser jovem num país desenvolvido hoje é muito diferente em comparação com as gerações anteriores. Das mudanças climáticas ao planejamento de carreira e a compra de uma casa, indivíduos dessa faixa etária sabem que o futuro é incerto. Com isso, muitos jovens pensam sobre o futuro de maneiras que as gerações passadas não precisavam. Eles tentam ganhar um senso de controle sobre a vida e assegurar o futuro que eles tanto aspiram”, declaram.
“Agora, os jovens sentem a pressão de se apresentarem como responsáveis e independentes cada vez mais cedo, e alguns temem que beber leve à intoxicação e à perda de controle, o que poderia atrapalhar os planos sobre o futuro. Essa ênfase no amanhã significa que esses indivíduos limitam o tempo gasto com festas e bebedeiras”, concluem os autores.
A redução na quantidade e frequência de consumo de álcool provocou mudanças na indústria de bebidas, que aumentou as opções sem álcool ou com baixo teor alcoólico. A historiadora Deborah Toner, professora da Universidade de Leicester, no Reino Unido, em entrevista para a BBC News Brasil, observou que “há 10 anos, era bem difícil encontrar vinhos, cervejas ou outras bebidas zero álcool em bares, pubs, restaurantes e supermercados. Mas esse mercado se expandiu enormemente nos últimos anos”.
Apesar dos números mostrarem que os jovens estão consumindo menos bebidas alcoólicas, profissionais do ramo ainda não notaram diferenças na prática. A bartender Nayara Martins afirma que, em seu local de trabalho, o consumo continua igual aos anos anteriores. “Não percebi aumento nos pedidos sem álcool. Os que mais tomam os drinques não alcoólicos são as crianças e alguns senhores mais idosos”, observa.