Por Thiago Borges
O palco principal do EmpoderaDONAS teve inspiração, conhecimento, reflexões e até negócio sendo fechado ao vivo. O maior evento de empreendedorismo feminino do Espírito Santo, realizado pelo Sebrae/ES nesta terça-feira, 21 de novembro, no Centro de Convenções de Vitória, contou com palestras da fundadora do Movimento Black Money e CEO da D’Black Bank, Nina Silva; a apresentadora, escritora e empreendedora Rafa Brites; a ex-jogadora de basquete Hortência Marcari; e a empresária e investidora Camila Farani.
Camila falou sobre aspectos das negociações, bases e habilidades comportamentais. Promoveu dinâmicas entre as ouvintes para fortalecer o networking e as chances de sair do evento com conexões entre diferentes áreas e provocar reflexões essenciais para fortalecer o empoderamento feminino.
Umas das dinâmicas de interação com a plateia foi perguntar ao público “O que seria feito se você recebesse 100 milhões de dólares?” e “O que seria feito se tivesse só mais 30 dias de vida?”. Segundo Farani, o objetivo das perguntas é fazer as mulheres se colocarem em primeiro lugar sempre.
“Mulheres passam 80% do tempo negociando, seja na vida pessoal ou em negócios. A questão é que a primeira negociação deve ser feita com você mesmo”, contou a empresária.
Apresentadora do Shark Tank durante seis temporadas, Camila decidiu promover a dinâmica do programa no palco principal do EmpoderaDONAS. Convidou a fundadora e CEO da AS Agenciamento de Imagem, Angélica Salviato, que acompanhava da plateia, para apresentar um pitch do próprio negócio. O resultado foi o fechamento de um contrato por Farani com os serviços de consultoria de imagem da empreendedora capixaba.
Angélica não segurou a emoção durante a participação e a proposta da palestrante, que é uma das maiores investidoras do País. Em conversa com o WhitepaperDocs, a empresária capixaba falou dos medos de empreender, com as dificuldades que uma mulher preta enfrenta no Brasil.
“A gente vive com medo, mas se inspira em mulheres como a Camila Farani. Eu não pensava que fosse conhecê-la pessoalmente e tive a oportunidade de ser escolhida para participar. Foi uma emoção. Ela me gerou uma oportunidade e estou me sentindo abraçada por isso”
Angélica Salviato, fundadora e CEO da AS Gerenciamento de Imagem.A empreendedora também falou sobre a importância do evento no fortalecimento das conexões femininas. “Como vale a pena acreditar que negócios com o poder feminino realmente geram possibilidades! Eu estava sentindo falta de um evento como esse aqui no Estado, para tornar o empreendedorismo cada vez mais acessível a mulheres. O EmpoderaDONAS supriu todas as minhas expectativas”, completou.
Liderança que transforma vidas
A primeira palestra do espaço foi conduzida por Nina Silva, fundadora do Movimento Black Money e CEO da D’Black Bank. Com longa trajetória no mercado da tecnologia e inovação e do empreendedorismo negro, Nina contou sobre a trajetória e as dificuldades do reconhecimento por ser uma mulher preta.
“De onde eu vim, nunca pude errar, por ser uma menina preta da periferia”, afirmou.
Vinda de família quilombola, Nina saudou seus ancestrais em um momento importante da palestra e lembrou da família: “Meus mentores, meus coachs, que me pegaram pela mão e me levaram até a faculdade pública”, mencionou.
A empreendedora integrou a lista das 100 personalidades afrodescendentes mais influentes do mundo com menos de 40 anos, pelo Most lnfluential People of African Descent (Mipad) em 2019, e se tornou a mulher mais disruptiva do mundo, eleita pela Women ln Tech Global Awards 2021.
Nina apresentou dados da McKinsey, que realizou um estudo em 12 países mostrando que empresas com diversidade em cargos de lideranças trazem maior lucratividade e inovações para os negócios. Em sua fala, destacou a importância do legado deixado pelas mulheres para as futuras gerações e a importância de promover a diversidade em ambientes de trabalho, respeitando as diferenças e promovendo oportunidades para todas.
“Não somos todas iguais, mas as oportunidades deveriam ser intencionais, com equidade”, afirmou.
Especialista em tecnologia, Nina Silva salientou que 76% das jovens possuem interesse nas áreas da ciências e tecnologia, mas apenas 0,4% delas escolhem o curso de Ciências da Computação.
A jornalista e professora universitária Mirella Bravo achou excepcional e empoderadora a palestra “Liderar para Transformar”, apresentada por Nina. Mirella também contou que ficou feliz por ver mulheres de diferentes faixas etárias circulando pelo evento.
“Fiquei muito feliz de ver um evento cheio de mulheres de várias classes sociais e de diferentes idades. Mostra que a gente tem uma demanda muito forte em Vitória e no Espírito Santo todo para isso”, concluiu Mirella.
Representatividade, pertencimento e redes de apoio
Rafa Brites, apresentadora, escritora e empreendedora, palestrou sobre transformar sonhos em realidade. Ela conversou com o WhitepaperDocs sobre como a falta de referências pode desencadear diversos traumas em mulheres, como a síndrome da impostora, que “não é um problema da mulher, é um reflexo interno de um cenário externo”.
“Como que a gente sonha com aquilo que a gente não vê? Como que a gente se espelha para ser empreendedora, para ser CEO de uma empresa, para ser uma grande atleta, sendo que a gente não vê essas pessoas ocupando esses lugares com frequência? Enquanto a gente não ocupar todos os espaços que a gente deve ocupar, as próximas gerações não vão se sentir pertencentes. E toda vez que elas chegarem nesse lugar, elas vão ter a sensação de insuficiência. E é isso que eu falo, para a gente combater, muitas vezes, esse sentimento de insuficiência e não se boicotar”
Rafa Brites, apresentadora, escritora e empreendedora.Rafa também apontou a importância das redes de apoio e como a proteção excessiva pode criar barreiras, ao invés de impulsionar a liderança feminina.
“Existe amor no cuidado, mas é preciso ficar atento. Quando a gente começa a participar de comunidades, estar em lugares que talvez as pessoas olhem pra gente de uma maneira diferente, sem essa coisa tão paternalista do cuidado, é um lugar muito frutífero para as mulheres, principalmente para mulheres que querem empreender, que querem ser livres”, explicou.
“Quando uma mulher abre uma porta, muitas outras seguem”
Hortência Marcari, considerada uma das maiores jogadoras de basquete de todos os tempos, apresentou Lições de uma Vida para diversas mulheres que buscam nela a força de uma mulher que enfrentou dificuldades para fazer carreira no esporte.
Ela se tornou a maior pontuadora da história da seleção brasileira, com 3.160 pontos marcados em 127 partidas oficiais, e marcou seu nome no Women’s Basketball Hall of Fame e no Naismith Memorial Basketball Hall of Fame, ambos nos Estados Unidos.
Hortência iniciou sua entrevista ao WhitepaperDocs afirmando: “Você pode ser aquilo que você quiser ser”. Há 50 anos, a ex-jogadora relembrou o preconceito que enfrentava ao entrar em uma quadra de basquete. “Quem jogava basquete era considerada ‘mulher-macho’, essa era a expressão usada na época. A gente era hostilizada e xingada de vários nomes”, relatou.
A campeã falou sobre a importância de entender o que é o empoderamento e como as mulheres precisam exercer o que gostam em suas vidas pessoais e profissionais, sem se preocupar com comentários negativos.
“Eu amava jogar basquete e eu joguei basquete, pois era isso que me fazia feliz”, completou.
Quando o assunto é referência, Hortência ressaltou que não é importante ter uma só, mas várias mulheres em que possamos nos espelhar e enxergar nos espaços, para abrir portas para outras mulheres e caminhar para um futuro mais inclusivo.
“Na vida da gente tem várias portas que são difíceis de ser abertas. Mas quando abre, um monte de gente segue você”, finalizou.
Kelly Pereira dos Santos, que participou da palestra, saiu motivada pelas palavras de Hortência. “Ela me motivou a continuar no meu sonho de querer fazer faculdade. O que fica marcado aqui é não desistir dos seus sonhos e ser forte”, disse.