Por Thiago Borges
O primeiro carro elétrico do Brasil pode ser fabricado no Espírito Santo. A informação é do empresário capixaba Flávio Assis, fundador da Lecar, que contou em entrevista exclusiva ao WhitepaperDocs que o governador do Estado, Renato Casagrande, o procurou para demonstrar apoio em levar o projeto para a região Norte do Espírito Santo, local onde existem atrativos fiscais do Estado e Federal, por meio da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
“Compartilhamos fornecedores da Marcopolo, Randon e Agrale. Com a chegada da Lecar no Espírito Santo, os fornecedores estão animados em sua instalação na região. Estamos apresentando aos fornecedores em Caxias (Rio Grande do Sul) para levar a oportunidade do Espírito Santo para eles”, afirmou Assis.
Foi observando as necessidades de cuidar do meio ambiente e da segurança da sociedade, somados com o desejo de acessar altas tecnologias, que Assis iniciou o desenvolvimento do primeiro carro elétrico do Brasil, o Lecar Model 459.
O WhitepaperDocs conversou com o fundador da Lecar para entender o desenvolvimento do veículo elétrico, sua trajetória empreendedora e o papel do ecossistema de inovação do Espírito Santo no apoio à iniciativa. De acordo com Flávio, o Espírito Santo possui um ambiente propício para inovar.
Alinhando o desejo de desenvolver iniciativas sustentáveis com as legislações brasileiras, Flávio contou ainda que foi a partir da Lei de Redução de Emissões, que prevê em três anos a redução de emissão de poluentes por veículos automotores, que iniciou as pesquisas para a produção do veículo elétrico e seguro, e que estuda com o governo brasileiro estratégias para que a oferta do veículo seja acessível para a população.
Compartilhamos fornecedores da Marcopolo, Randon e Agrale. Com a chegada da Lecar no Espírito Santo, os fornecedores estão animados em sua instalação na região”
Flavio Assis, fundador da Lecar
WhitepaperDocs – Pode nos contar um pouco sobre a motivação por trás dessa iniciativa de desenvolver o primeiro carro elétrico do Brasil? Quando e como surgiu a ideia?
Flávio Assis, fundador da Lecar – Com a saída da Ford e da Mercedes-Benz do Brasil, me despertou a curiosidade e iniciei pesquisas para entender esse movimento negativo para a mobilidade do Brasil. Me deparei com a Lei 8723/1993, que definiu metas de redução de emissões de CO2 na mobilidade e que, a partir de 2027, não serão utilizados motores a combustão para fabricação de veículos.
Observando que a necessidade de cuidar do meio ambiente vem antes da obrigação da Lei de Redução de Emissões, e que a mobilidade elétrica é uma realidade e uma necessidade urgente, decidi empreender na Lecar.
– Pode compartilhar um pouco sobre os desafios enfrentados durante o processo de desenvolvimento do carro?
O desafio inicial foi a falta de cultura de montadoras no Brasil. A última iniciativa foi por parte da Gurgel, há quase cinco décadas. Nossos engenheiros automobilísticos são capacitados para montar carros e não para atuarem em um projeto de desenvolvimento de um carro, o que contornamos oferecendo um Tesla para a engenharia desmontar e acessar a melhor tecnologia de carros elétricos da atualidade.
– Qual é o papel do Espírito Santo no apoio ao desenvolvimento do veículo elétrico no País? Alguma tecnologia desenvolvida em solo capixaba? Houve colaboração em termos de pesquisas/instituições, mão de obra, políticas de incentivo e regulamentações favoráveis?
Essa semana, fomos procurados pelo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, que ofereceu apoio incondicional e pessoal, inclusive seu telefone pessoal, para levar o projeto para a região Norte do Espírito Santo, onde existem atrativos fiscais do Estado e Federal através da Sudene.
Compartilhamos fornecedores da Marcopolo, Randon e Agrale. Com a chegada da Lecar no Espírito Santo, os fornecedores estão animados em sua instalação na região.
Estamos apresentando aos fornecedores em Caxias (Rio Grande do Sul) para levar a oportunidade do Espírito Santo para eles, dentre eles: Polirim do Brasil, subsidiária brasileira da Polirim Itália que produz a carroceria da Marcopolo e também vai produzir as nossas, além de duas modeladoras, a Angulo e a DPM. E tenho reunião no próximo mês com a Comau italiana, responsável pela montagem de quase todas as montadoras do mundo. Selecionamos eles pelos excelentes serviços prestados à Tesla. Inclusive, o governo da Itália vai financiar 80% da nossa linha de montagem. Vamos levar para o ES oportunidades parecidas.
– Haverá participação capixaba na fabricação do veículo? (alguma peça ou software produzidos localmente, por exemplo)
Se depender do governador Renato Casagrande, a produção será em nosso querido Estado.
– O que o Lecar Model 459 traz de inovação no segmento de carros elétricos? Qual seu diferencial em relação aos outros modelos no mercado?
Nosso projeto foi feito para as condições das estradas do Brasil, com estrutura reforçada e suspensão duplo A, para segurança e durabilidade do nosso carro. Isso, além de características de uso pelos brasileiros, que utilizam os carros para trabalho, passeio, mudança etc.
– Percebe uma tendência de mudança de comportamento do público que leve a uma procura maior por veículos elétricos? Quais acredita serem as maiores motivações de quem troca seu carro a gasolina por um veículo elétrico?
O consumidor deseja e a legislação prevê já para 2027 carros sustentáveis e seguros. Oferecemos esses recursos em nossos produtos.
– Ainda há resistência de uma parcela do público? Em relação a qual aspecto?
A resistência está sendo o preço, mas estamos buscando entendimento do governo, pois temos que ter no Brasil as mesmas condições tributárias das grandes potências automobilísticas mundiais, como a China e Estados Unidos, que não pagam impostos na produção de seus carros. Com esse apoio, teremos nossos produtos com preços acessíveis e que caibam no bolso dos brasileiros.
– Existe a necessidade de uma mudança de mentalidade por parte dos consumidores em relação a veículos elétricos? Quais estratégias estão sendo adotadas para educar o público sobre os benefícios desses carros?
Cuidar do meio ambiente, segurança e acessar alta tecnologia são os nossos diferenciais, e desejo do público.
– E falando em futuro, quais são as suas expectativas para o mercado de carros elétricos no País nos próximos anos? Como você enxerga a evolução desse setor?
Estamos em crescimento acelerado e o cenário está sendo dominado pelos chineses no Brasil, que evoluíram muito em seus produtos e, com isso, confirma que temos espaço e adesão para entrantes no mercado de elétricos.
– Quais são as perspectivas de expansão da linha de carros elétricos da sua empresa? Existem planos para a introdução de novos modelos ou tecnologias?
Usaremos tecnologia para ler o ambiente e gerenciar o carro através dos sistemas ADAS (Sistema Avançado de Assistência ao Condutor, em livre tradução). Iremos oferecer:
- Full Self Driving (FSD), direção autônoma, para um fácil entendimento igual ao do Tesla;
- Lane Keeping System (LKS), sistema de permanência em faixa: o assistente de permanência de faixa é responsável por observar as faixas de trânsito de uma via, a fim de corrigir a trajetória do veículo, caso seja necessário;
- Adaptative Cruise Control (ACC), Controle de Velocidade Adaptativo: o Controle de Velocidade Adaptativo é responsável por acelerar e frear o carro sozinho, baseado na distância e velocidade do carro que está à frente. O radar ultra-sônico que compõe o dispositivo monitora distância, velocidade e movimentos de objetos;
- Brake Assist System (BAS), Assistente de Frenagem de Emergência: o Assistente de Frenagem de Emergência utiliza muitas ferramentas tecnológicas e até mesmo inteligência artificial para evitar colisões quando percebe que o motorista não tem total controle sobre o veículo;
- Pedestrian Collision Warning (PCW), Sistema de Detecção de Pedestres: com funcionalidade semelhante ao BAS, é o Sistema de Detecção de Pedestre e ciclistas que estão à frente ou próximos ao veículo. Caso detecte alguma mudança súbita de direção, os sensores do dispositivo acionam os freios de maneira automática, a fim de evitar acidentes;
- Blind Spot Monitoring System (BLIS), Sistema de Alerta de Ponto Cego: como o próprio nome sugere, o BLIS é um sistema que alerta o motorista sobre pontos cegos, aqueles não captados pelos retrovisores externos.
A empresa planeja, ainda, o lançamento de uma versão urbana com preço popular, o Lecar Pop, em parceria com a WEG, que poderá fornecer os motores e baterias com preço ao consumidor abaixo de R$ 100mil, 250km de autonomia por carga, cinco passageiros e todas as tecnologias de direção autônoma dos melhores carros do mundo, como a Tesla, que proporciona satisfação ao dirigir, segurança para os ocupantes e pedestres.
– Gostaríamos de conhecer um pouco mais sobre a sua trajetória no Espírito Santo. Como foi trilhado o seu caminho pela tecnologia e inovação aqui? Acredita que o Estado seja um local favorável para o ecossistema de inovação?
O ambiente e ecossistema capixaba favorecem o surgimento de novos negócios e soluções tecnológicas. Como exemplo, a Lecard (administradora de cartões criada por Assis) surgiu de uma viagem a Portugal e Espanha para conhecer vinícolas, proporcionadas pelo Rogério Salume, fundador da Wine. Essas conexões e ambiência nos deixam inspirados e criativos. Aproveito a oportunidade para agradecer ao Rogério Salume, da Wine; Wilson Missagia, da CBL; João Batista, da Cidade Engenharia; e Pepeu Tintas, Frederico Borbia, da Vitória Hospitalar, meus ex-vizinhos e ídolos, pela oportunidade de transformar a minha vida e de milhares de pessoas impactadas pela Lecard, e agora pela Lecar.
Temos muitas iniciativas no ES que corroboram para inovar.
– Como essa iniciativa de criação do carro elétrico fortalece o ES?
Inspirando outros capixabas a grandes realizações. Temos muitas iniciativas validadas e de sucesso. Isso impulsiona e favorece o Estado. Uma coisa comum a todos os empreendedores capixabas, estamos a serviço e disponíveis a quaisquer iniciativas de novos negócios, apoiando e conectando pessoas e tecnologias para o surgimento de novas ideias.