Por Richardson Schmittel, diretor regional do Senac Espírito Santo
Quando a idade física chega, os fatores biológicos podem afetar a produtividade de uma pessoa no ambiente de trabalho. Contudo, contesto esse fator como sendo algo geracional. Muito se discute sobre como as diferentes gerações de profissionais se comportam no ambiente corporativo. Na maioria das vezes, buscamos enquadrar profissionais em um conjunto de competências e comportamentos que supostamente são definidos pela época em que o profissional nasceu, por exemplo. Mas será que deve ser assim?
Essa é uma discussão importante, pois a população brasileira vem envelhecendo. Em breve, teremos mais idosos do que jovens e isso também resulta em mudanças no mercado de trabalho. Estima-se que, até o final desta década, teremos 35 países com mais idosos do que jovens. No Brasil, segundo o IBGE, teremos mais pessoas acima de 60 anos do que pessoas entre zero e 14 anos.
É visualmente perceptível a mudança da pirâmide etária brasileira entre 1990 e 2020, como apresentado nos gráficos abaixo, principalmente quando comparamos o percentual de homens e mulheres de zero a 4 anos, tendo um decréscimo de aproximadamente metade do percentual.
Com um percentual maior de pessoas com idades entre 19 e 65 anos, precisamos discutir o impacto dessas diferentes gerações dentro do mercado de trabalho. Geração Silenciosa, Baby Boomers, Geração X, Geração Y, Millenials (ou Geração Z) e geração Alpha, são denominações que comumente tentam representar as características e comportamentos de pessoas que nasceram entre os anos de 1928 e os dias atuais. Mas será que é possível distinguir essas competências com base na época em que as pessoas nasceram?
Já existem empresas perdendo uma fatia de mercado por não desenvolverem produtos para pessoas mais velhas. A curto prazo, podem perder, ainda, produtividade por não valorizarem as pessoas por suas competências e até desvalorizá-las em função da idade. Digo isso, pois, compreendo que existe uma fronteira muito frágil entre o etarismo (preconceito em relação aos mais velhos) e o conflito geracional (gerados a partir da diferença entre crenças, valores, atitudes e comportamentos entre pessoas de diferentes idades).
Em fevereiro deste ano, a Fundadora e Presidente do Conselho Cia de Talentos da Bettha.com na Exame, Sofia Esteves, publicou um artigo que amplia o debate sobre gerações e busca afastar o determinismo reducionista acerca do etarismo. A forma rígida de determinar um conjunto de comportamentos ligados à idade ou de fatos históricos que ocorreram durante a vida de uma pessoa pode ser uma camada muito fina dentro da complexidade que é o indivíduo.
É por isso que me pergunto: será que um baby boomer que nasceu na Europa sofreu a mesma influência histórico-cultural de um baby boomer nascido aqui no Brasil? Ou mais: será que uma pessoa nascida na década de 1990, no interior de Minas Gerais, se comporta de maneira similar no ambiente de trabalho em relação a uma pessoa nascida no mesmo dia na capital paulista? Na minha opinião, não. As diferenças econômicas, culturais e sociais locais são mais fortes em comparação com o tempo cronológico.
Sofia Esteves destaca, ainda, a importância do momento histórico e a conjuntura da época em que a pessoa nasceu e viveu, além das condições materiais disponíveis, e deixa clara a complexidade do assunto. Compreendo que as condições sociais e econômicas sobressaem às características ligadas à idade e posso exemplificar com algo que ouço no meu dia a dia como gestor. Percebo que as gerações mais novas não são apegadas à estabilidade no emprego, pois desejam liberdade para viajar e ter experiências. Mas será que um jovem que precisa contribuir economicamente para sustentar a família renunciaria à estabilidade de emprego para viver experiências e viajar? Obviamente, trata-se de um comportamento raro e só conseguimos imaginar isso dentro de nossa bolha social.
Outros aspectos dos conflitos geracionais, destacado na publicação da Exame, são: “as pessoas não são”, “elas estão”, ou seja, elas podem mudar. Uma geração que não é nativa digital teve que se adequar para continuar consumindo uma série de serviços, inclusive públicos, como acesso aos tratamentos de saúde, imunização, entre outros. Já a geração que vivenciou o surgimento da internet, pode conhecer bem mais de internet como os nativos digitais, que não tiveram esse esforço e apenas utilizam os recursos quase que de maneira natural. Observo, inclusive, postagens em que recrutadores se queixam da falta de domínio de Informática Básica das novas gerações.
Até aqui falei muito de questões históricas, culturais, atitudes, comportamentos, entre outros. No entanto, existem aspectos que os estudos geracionais precisam continuar estudando em profundidade, especialmente com a evolução da neurociência. Como as questões biológicas podem afetar as pessoas de acordo com sua idade biológica? Peço licença para falar desse tema que não domino, mas é incontestável. Quando a idade física chega, os fatores biológicos podem afetar a produtividade de uma pessoa no ambiente de trabalho. Contudo, contesto esse fator como sendo algo geracional, pois reflete apenas acerca do desempenho de indivíduo, sobre o que ele mesmo produzia e não sobre os demais de sua geração, considerando todo o aspecto destacado antes.
Enfim, uma série de pesquisas e estudos é realizada anualmente para tentar explicar as diferenças de competências, atitudes, comportamentos e produtividade entre diferentes gerações de profissionais, mas muito pouco conseguiu ser identificado em termos de produtividade e competências entre indivíduos com idades diferentes no ambiente de trabalho. Provavelmente, toda a subjetividade envolvida nessa discussão nos mostre um dia que não é simples enquadrar uma pessoa geracionalmente, assim como no passado, já buscamos justificar nossas diferenças em função de etnia, gênero, entre outros aspectos.