Por Thiago Borges
Após o bloqueio do X (antigo Twitter) no Brasil, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), devido a várias infrações cometidas pela rede social de Elon Musk, muitos brasileiros precisaram buscar um novo refúgio de mídias sociais e o Bluesky se tornou essa opção. A rede social, lançada em 2021, registrou crescimento substancial em seus números e já conta com mais usuários diários do que o X registrava antes de sua suspensão, no dia 31 de agosto, segundo dados da Similarweb.
O microblog alcançou a marca de 10 milhões de usuários após a migração em massa dos brasileiros para o novo site. A postagem em comemoração ao crescimento não detalha quantos desses usuários são brasileiros, mas foi compartilhada pela conta oficial da rede em inglês e português, visto que esta se tornou a língua mais falada na plataforma, conforme anunciou a empresa. Além disso, o cadastro de novas contas se tornou exponencial após o banimento do X em território nacional: até novembro de 2023, o Bluesky tinha 2 milhões de usuários; após o bloqueio do X no Brasil, foram necessários somente três dias para a nova rede social atingir essa marca de novas contas.

Lançado em outubro de 2021, o Bluesky era restrito a convites, mas passou a ser aberto para novos usuários sem restrições a partir de fevereiro deste ano, como uma prova de conceito para o AT Protocol, que serve para construir aplicações sociais.
E devido aos problemas legais do X no Brasil, o Bluesky tem tentado agir rápido para implementar novas funções. Dentre as novas funcionalidades, estão a postagem e visualização de vídeos na rede social, muito cobrada pelos usuários brasileiros e implementada no último dia 12 de setembro, e a possibilidade de privar as contas, ainda sem tempo exato para a implementação. A chegada de chamadas de voz, como existia no X, não está nos planos por enquanto, e ainda não foram divulgadas informações sobre sistemas de verificação de identidade, seja pago ou gratuito.
Bluesky ou Threads
“Bluesky ou Threads” foram termos de busca que registraram um aumento repentino no Brasil na ferramenta Google Trends durante a semana da determinação do bloqueio do X.
Segundo especialistas, o Threads, aplicativo da Meta, empresa que também detém Facebook, Instagram e WhatsApp, perde em popularidade e favoritismo, mesmo a rede social contando com mais de 160 milhões de contas ativas. Enquanto isso, o Bluesky, desenvolvido por Jack Dorsey, criador do antigo Twitter, já conta com 10 milhões de contas ativas, ganha em popularidade, mas permanece com o futuro incerto.
Bluesky será o novo Koo?
Apesar da animação dos desenvolvedores do Bluesky, é bom lembrar que algo muito similar foi visto com a rede social Koo, plataforma indiana que ganhou grande popularidade no Brasil quando Elon Musk anunciou a compra do Twitter, em outubro de 2022.
A rede investiu em infraestrutura e novas funcionalidades para receber os novos usuários brasileiros e não se sustentou após o retorno dos internautas ao Twitter, encerrando as atividades oficialmente em julho deste ano.


Muitos usuários ativos do Bluesky manifestam a vontade de permanecer na rede, que tem mais ferramentas de moderação que o X e a possibilidade de personalizar feeds de acordo com seus assuntos de interesse, mas outros ainda se dividem sobre o retorno à plataforma de Elon Musk, que apesar das reclamações sobre a falta de controle em relação a discursos de ódio, ainda concentra a maior parte dos usuários de outros países e possibilita um melhor acompanhamento de assuntos internacionais. Ao mesmo tempo, usuários estrangeiros do X lamentam a ausência dos brasileiros na plataforma, que eles definem como “a alma do site”.
Para compreender esse processo de migração entre redes socias, as chances de se estabelecer e as perdas causadas pela suspensão do X em território nacional, o WhitepaperDocs conversou com o head da empresa de Marketing Digital Buzz.me, Raul Marques, que falou sobre o impacto da restrição na comunicação, o senso de comunidade dentro da rede social X e o processo de retorno após uma possível liberação da plataforma no Brasil.
WhitepaperDocs – Sabemos que o Twitter era uma plataforma de grande alcance, que gerava retornos rápidos quando falamos de um uso profissional por instituições que desejavam emitir comunicados, e até mesmo para clientes quando buscavam por resoluções. Agora com a suspensão do X, qual a sua análise para a forma como isso vai impactar nessa comunicação no mundo dos negócios e nas aproximações entre marcas e clientes?
Raul Marques, head da Buzz.me – O impacto na comunicação é enorme. Cada rede social ocupa um espaço na necessidade de troca de informações entre usuários. O espaço ocupado pelo X (antigo Twitter) é a entrega de conteúdo em primeira mão. Presidentes e órgãos de governo se pronunciam oficialmente via X, antes mesmo do contato com a imprensa. Empresas usavam o Twitter como meio de comunicação rápida para serviço de apoio aos clientes. Também foi um dos primeiros locais de anúncios de grandes novidades. Não poder contar com esta ferramenta com certeza implicará numa dificuldade maior de apurar informações em tempo real.
– Como você avalia esse movimento de transição entre o X e o Bluesky? Há chances de se sustentar futuramente? E como fica o senso de comunidade que existia no Twitter, agora com uma nova plataforma digital?
Creio que [essa transição] não acontecerá. Estas ferramentas vêm esperando por este momento. Sobre o senso de comunidade, os componentes dela encontrarão por certo uma enorme dificuldade de se fazer a gestão deste público.
A transição para outras ferramentas é bem difícil de vingar. O Twitter, em seu formato, sempre resistiu por um aspecto quase cultural. As pessoas se sentem, ou se sentiam, mais livres para expressar suas ideias lá de forma mais livre. Isso trazia a característica que fazia a rede social ser uma das mais amadas e odiadas ao mesmo tempo, porque é um local de grandes discussões, mas ao mesmo tempo sempre foi uma “praça de guerra das ideias”. Isso nenhuma das outras redes sociais conseguiu reproduzir justamente em adequação a políticas atuais propostas no cenário das bigtechs, como uma maior moderação de conteúdo.
Não creio que este movimento seja duradouro, e creio que quando (ou se) o X voltar ao Brasil, o movimento natural é a volta dos usuários. Afinal, o resto do mundo ainda está lá. Grandes notícias do mundo inteiro são dadas lá, governantes se comunicam por lá. É uma característica própria difícil de reproduzir.
– Em uma possível volta da rede X em território nacional, voltaremos ao cenário pré-bloqueio ou a rede sairá perdendo usuários de forma significativa?
Muito nessa migração de plataforma será perdido. Há um volume muito grande de informações e personalidades que eram acompanhadas por lá. Um trabalho de recomeço, tanto de grandes quanto pequenos usuários, pode ser desanimador para eles. Principalmente porque, apesar do Twitter ser queridinho para certos tipos de informações, hoje o formato de conteúdo preferido é outro – o vídeo.
O formato de poucos caracteres só existe hoje porque é o Twitter/X, onde pessoas construíram seu próprio algoritmo e audiência ao longo dos anos. Muito dificilmente este formato terá a mesma força em outra rede.
A perda do X neste período bloqueado é grande, mas reversível. E não digo somente na questão de anunciantes. Creio que alguns usuários aproveitarão este momento para “não voltar à rede”, afinal, boa parte do comportamento do usuário é movido pelo hábito.
É quase automático pegar o celular e visitar as redes sociais na mesma ordem. Essa pausa pode acostumar alguns à sua perda, mas acredito que não seja um número tão grande de pessoas. Tudo tende a se recuperar em uma volta, principalmente porque o mundo continua usando a ferramenta e oferecendo as mesmas informações rápidas, que é o que o usuário gosta na rede.