Por Thiago Borges
Jornalistas, relações públicas, publicitários, entre outros – a Assessoria de Comunicação (Ascom) pode contar com profissionais de diferentes formações. Mas para quem não trabalha na área, ou até mesmo quem está se formando em Comunicação Social, pode parecer difícil entender a real função desse setor, principalmente quando se fala de comunicação pública.
Para ampliar a visibilidade sobre ações e projetos, além de criar conteúdos educacionais com foco nas atividades exercidas na assessoria de comunicação de órgãos públicos, a jornalista e assessora Liege Nogueira criou o projeto Comunicário.
A iniciativa se propõe a ser uma fonte de aprendizado contínuo, compartilhando práticas, desafios e soluções que são essenciais para quem atua nesse campo. Em entrevista ao Whitepaper Docs, Liege compartilhou o início do projeto, suas principais missões e como a evolução das tecnologias podem impactar o trabalho da comunicação pública.
Liege Nogueira: “é fundamental que a comunicação seja produzida em linguagem simples e com recursos de acessibilidade, pois não há mais espaço para conteúdos técnicos, que dificultem ou limitem o entendimento do cidadão”
WhitepaperDocs – O que é o Comunicário e como ele surgiu?
Liege Nogueira, assessora de Comunicação Pública e idealizadora do Comunicário – O Comunicário é um projeto direcionado aos profissionais e acadêmicos de Comunicação que desejam entender, de forma precisa e sem rodeios, o que de fato é realizado em uma Assessoria de Comunicação de órgãos públicos. Trata-se de uma iniciativa focada nas demandas diárias e práticas de um assessor, com o intuito de oferecer conteúdo relevante sobre o cotidiano da profissão.
O projeto nasceu da necessidade de esclarecer o trabalho dos assessores de comunicação, em especial diante do pouco entendimento tanto entre os próprios colegas da área quanto entre os servidores públicos. Além disso, do propósito de aumentar o reconhecimento e a valorização dos profissionais, que desempenham um papel fundamental para garantir que a sociedade tenha maior acesso e compreensão sobre as funções das instituições públicas.
Meu desejo também é oferecer conhecimento e acolhimento aos colegas da profissão, pois, ao ingressarem no serviço público, muitos enfrentam equipes reduzidas, o que exige o desenvolvimento de habilidades em várias áreas da comunicação, gestão, eventos e muito mais.
Qual a principal missão do Comunicário? Quais objetivos você espera alcançar com o projeto?
A missão do Comunicário é oferecer um entendimento mais claro e acessível sobre o trabalho na assessoria de comunicação de órgãos públicos, ao proporcionar soluções práticas baseadas nas necessidades diárias dos assessores. O projeto visa valorizar esses profissionais, reforçando seu papel na promoção da transparência e na relação com a sociedade.
Com a iniciativa, espero alcançar vários objetivos: oferecer conteúdo relevante que auxilie os assessores a superarem desafios diários; criar um espaço de aprendizado contínuo; e promover o reconhecimento do trabalho desses profissionais no serviço público. Além disso, o projeto visa estimular o desenvolvimento de profissionais multifacetados, preparados para atuar de forma estratégica e alinhada aos objetivos das instituições públicas. Por fim, pretendo que o Comunicário seja uma comunidade de apoio, onde os profissionais possam trocar experiências e evoluir juntos.
Como é o processo de criação do conteúdo?
O processo de criação do conteúdo do Comunicário combina pesquisa, experiência e vivência. Acompanho o trabalho das assessorias de comunicação do setor público para entender desafios e boas práticas, além de buscar referências a partir de mentoria e trocas com colegas jornalistas e servidores públicos. O projeto foi criado com muito estudo e planejamento, desde a concepção da marca e da definição da identidade visual até o conteúdo abordado.
Com mais de 10 anos de prática na área, desenvolvo um olhar crítico e reflexivo, de forma a gerar conteúdos que informam e promovem discussão. A narrativa é pensada para ser envolvente e tornar temas complexos mais simples de compreender.
Quais são os assuntos mais recorrentes no Comunicário? Quais temas você acha que são mais urgentes ou relevantes hoje quando falamos de Comunicação Pública?
Os assuntos mais recorrentes no Comunicário abordam temas como comunicação inclusiva e acessibilidade; insights para profissionais de Comunicação Pública; as vantagens do concurso público; ferramentas que facilitam o trabalho na Ascom; além de marketing, eventos institucionais e planejamento estratégico, para a formação de um profissional multifacetado.
Atualmente, considero mais urgentes e relevantes as discussões sobre acessibilidade na Comunicação Pública, essencial para promover inclusão e equidade; o uso da Inteligência Artificial no setor, capaz de aprimorar tarefas e processos; e a necessidade constante de atualização dos profissionais em diversos segmentos, não apenas no mundo digital, como forma de conquistar valorização, reconhecimento e gerar resultados positivos e transformadores, de fato, para a sociedade.
Você vê a inserção deste projeto em salas de aula dos cursos de Comunicação?
Sim, com certeza! Pouco se fala sobre Comunicação Pública nos cursos de Comunicação Social, e ainda menos sobre a prática nessa área. Não há, inclusive, essa disciplina na grade curricular, apesar de existir uma grande quantidade de comunicólogos atuando nesse segmento.
Muitos colegas que não pretendem empreender ou trabalhar na iniciativa privada podem encontrar na Comunicação Pública uma alternativa de carreira, especialmente para quem busca estabilidade financeira.
Como você começou a se interessar por Comunicação Pública?
Meu interesse pela Comunicação Pública surgiu durante a graduação, quando estagiei na Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Vitória. Nesse setor, tive a oportunidade de conhecer profissionais brilhantes, comprometidos e dedicados. Além disso, as disciplinas de Assessoria de Imprensa e Comunicação Organizacional foram as que mais me encantaram no curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, realizado na Universidade Federal do Espírito Santo, entre 2004 e 2008.
Com o avanço das tecnologias, como a Inteligência Artificial e as redes sociais, o que você acha que está mudando neste campo?
Com o avanço das tecnologias e o impacto das mídias sociais, a Comunicação Pública tem vivenciado mudanças significativas, especialmente devido à carência de recursos financeiros e humanos na esfera pública. Antes, o foco estava na escrita. Quem produzia textos de qualidade, fazia uma boa articulação com a imprensa e cobria eventos, acabava se destacando profissionalmente. Hoje, a atuação do profissional de Comunicação é cada vez mais abrangente. Ele precisa ser um profissional estrategista e multifacetado, focado em se atualizar constantemente para se manter competitivo no mercado de trabalho. Isso porque a Comunicação no setor público é essencial para a tomada de decisões nas instituições. As tecnologias, por sua vez, chegaram para facilitar o trabalho e otimizar tarefas, porém isso só é possível para aqueles que buscam se atualizar e utilizar dados analisados para obter resultados.
Como as instituições públicas podem melhorar suas práticas de comunicação com a população?
A Comunicação Pública precisa ser mais inclusiva, educativa e utilizar uma linguagem simples, de forma a facilitar o entendimento da população sobre seus direitos e deveres ao acessar serviços públicos, tanto para pessoas com deficiência quanto para aquelas sem essa condição. Isso inclui adaptar conteúdo para diferentes formas de comunicação, como o uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras), legendas, braile e audiodescrição para garantir que todos tenham igualdade de acesso à informação.
É fundamental que as instituições compreendam que a Comunicação Pública exige investimentos e não pode ser reativa, apagando incêndios ou atendendo demandas urgentes de última hora. Para que os resultados realmente aconteçam, é necessário que haja um planejamento estratégico integrado, com alinhamento entre setores e até parcerias entre diferentes órgãos públicos. Quando a comunicação é tratada de forma planejada e integrada, ela pode contribuir significativamente para a construção de uma imagem sólida e a criação de um fluxo contínuo de informação relevante para a população.
Quais são as tendências ou inovações que você acredita que vão marcar o futuro da Comunicação Pública?
Acredito que as instituições públicas precisarão investir mais na análise de dados e em profissionais com uma visão ampla, diversas habilidades e conhecimento em ferramentas de inteligência artificial. Isso permitirá a criação de conteúdo mais criativo e a melhoria da comunicação com a população.
Ademais, é fundamental que a comunicação seja produzida em linguagem simples e com recursos de acessibilidade, pois não há mais espaço para conteúdos técnicos, que dificultem ou limitem o entendimento do cidadão.
Sobre projeções futuras, o que podemos esperar do Comunicário para o próximo ano?
Para o próximo ano, podemos esperar um conteúdo mais diversificado e uma participação maior de profissionais de Comunicação e de outras áreas, com o intuito de aprimorar o trabalho nas instituições públicas. A proposta é expandir as discussões e trazer novas perspectivas que contribuam para o desenvolvimento da Comunicação Pública. Afinal, o termo Comunicário também representa um espaço coletivo, focado no acolhimento e na troca de conhecimentos entre profissionais e acadêmicos da área da Comunicação.