Atuação privada na ajuda às vítimas da tragédia no Sul do Espírito Santo é tendência internacional em situações de calamidade, como furacões e incêndios.
Uma rede de empresas se formou com iniciativas de diferentes dimensões para prestar socorro às vítimas das chuvas que destruíram municípios do Sul do Espírito Santo neste janeiro, deixando mortos e milhares de desabrigados e desalojados. A tragédia atingiu mais de 20 cidades e seis delas decretaram calamidade pública.
O Sicoob anunciou sua linha de crédito emergencial Recomeçar, sem juros, para os associados estabelecidos em municípios em situação de emergência ou calamidade. Os empréstimos são de até R$ 3 mil para pessoas e até R$ 15 mil para empresas, com seis meses para começar a pagar e prazo de 3 anos para quitação. A contratação pode ser feita nas agências de Alfredo Chaves, Iconha, Rio Novo do Sul e Vargem Alta, ou preenchendo o formulário no https://recomece.sicoobes.com.br/ .
“O Sicoob é uma empresa coletiva, uma cooperativa financeira que tem o propósito de promover justiça financeira e progresso. Nossos donos são os cooperados que residem nessas localidades. O objetivo é incentivar, através de operações de crédito, a retomada da economia local, que favorece toda a sociedade. Por isso a linha de crédito é para todos os interessados nessas regiões. Os associados ao Sicoob até a data da catástrofe têm o benefício da isenção de juros. Os demais têm uma taxa de 0,5% ao mês”, explica Nailson Dalla Bernardina, diretor-executivo do Sicoob ES.
CONSULTORIA
O Sebrae-ES está doando R$ 500 mil em consultorias gratuitas para auxiliar as micro e pequenas empresas atingidas a se reerguerem, com organização de novos planos de negócios e estratégias de recomposição de estoque, por exemplo. Em Iconha, Vargem Alta e Alfredo Chaves, o ramo mais prejudicado foi o comércio varejista com artigos de vestuário e acessórios.
“Serão consultorias gratuitas, atendimentos em caravanas itinerantes, visitas porta a porta e mutirões para contribuir com a retomada das atividades comerciais e fazer a roda da economia girar novamente”, afirma Pedro Rigo, superintendente do Sebrae-ES.
OUTRAS INICIATIVAS
A EDP postergou a data de pagamento das contas de energia elétrica nos municípios atingidos, fez uma campanha de angariação de donativos e mais de 80 colaboradores ajudaram na limpeza de algumas das cidades afetadas, além de todo o contingente que esteve trabalhando no restabelecimento do fornecimento da energia elétrica.
A Transportadora Jolivan, que é de Iconha, um dos locais afetados, está passando nas residências da Grande Vitória recolhendo doações de maior porte, como móveis e eletrodomésticos. Os agendamentos podem ser feitos pelo telefone (27) 3246-3000, no ramal 3020.
Além disso, diversas lojas e redes de supermercados são pontos de coleta de doações, que estão sendo levados aos municípios sem custo de entrega.
Algumas empresas também colaboram por meio da divulgação de campanhas, como o PicPay, que enviou uma notificação para o telefone de seus usuários direcionada para pagamentos ao perfil do grupo de solidariedade Fazer o Bem, Faz Bem, que em apenas um final de semana arrecadou R$ 38.107,48 para levar água, mantimentos e produtos essenciais aos desabrigados.
E você, sabe de mais iniciativas privadas no socorro à tragédia da chuva? Conte aqui nos comentários.

TENDÊNCIA INTERNACIONAL
O engajamento de empresas na ajuda a vítimas de desastres naturais que assolam as comunidades onde estão inseridas é tendência internacional em situações como furacões, terremotos, incêndios e tsunamis.
Inúmeras companhias estão doando parte de seus lucros para ajudar as vítimas e as equipes de bombeiros da Austrália, devastada por um dos maiores incêndios de sua história. A Infinity Ward, desenvolvedora do game Call of Duty, vai doar toda a receita do conteúdo extra do jogo que for vendido em janeiro, e a Amazon prometeu doar US$ 690 mil para apoiar a causa.
A atuação privada na ajuda humanitária cresce ano a ano. Em 2004, após o tsunami no Oceano Índico que matou mais de 200 mil pessoas, a Coca-Cola usou sua estrutura de produção de refrigerantes no Sri Lanka para engarrafar água e distribuiu o produto em seus caminhões. No Chile, em 2010, mineradoras disponibilizaram suas equipes de construção para reerguer escolas públicas após um terremoto.

Os professores Michael Useem e Tyler Wry, da Wharton, escola de Administração da Universidade da Pensilvânia, e Luis Ballesteros, da Universidade George Washington, analisaram mais de 74 mil doações feitas por 34 mil empresas em calamidades mundiais, como os furacões Sandy, Harvey, Irma e Maria e o terremoto seguido de tsunami no Japão.
O artigo ressalta que as fontes tradicionais de socorro não conseguem acompanhar os cada vez mais elevados custos das calamidades – de 1990 a 2015 os custos anuais decorrentes de furacões, inundações e terremotos no mundo cresceram 600%, ou mais de US$ 300 bilhões.
A ajuda dada por empresas se tornou a fonte de socorro que mais tem crescido no mundo, e em alguns casos ela excede as contribuições dos agentes tradicionais, como governos, agências internacionais e instituições de caridade somados. Exemplos são do terremoto no Chile em 2010, quando 55% de toda a ajuda internacional vieram de empresas, e no Japão, em 2011, quando as corporações responderam por 68% da assistência.
TODOS GANHAM
Quando uma empresa doa dinheiro ou serviços, é comum haver o questionamento do interesse por trás do ato. Mas existe uma conscientização maior por parte das corporações de que elas não são pontos isolados e que se o ecossistema no qual estão inseridas foi praticamente destruído, elas podem e devem ajudar na reconstrução.
“As empresas podem fazer o bem devido à sua presença nos locais atingidos. Elas provavelmente têm um entendimento mais aprofundado da crise na região impactada graças às informações dadas por seus gerentes e funcionários”, justificam Useem, Wry e Ballesteros.
Outra vantagem é que investimentos privados acabam incentivando uma maior ajuda de agentes internacionais: quando pelo menos 44% do auxílio dado vinha de empresas locais, o país atingido obtinha mais do que o dobro da ajuda internacional em comparação com um país cujas empresas ajudaram menos.
“O governo terá de arcar com a maior parte do ônus, juntamente com as seguradoras e os próprios residentes. Porém, as empresas podem também desempenhar um papel vital, e elas contribuirão mais e melhor doando para as áreas em que têm operações e onde possam usar melhor os recursos específicos de que dispõem”, concluem os professores.