Alternativas como a telemedicina e atendimentos em domicílio cresceram durante a pandemia e devem permanecer após o período.
O senso de urgência e a necessidade de distanciamento social causados pela Covid-19 foram os motivos para que alternativas como a telemedicina e os atendimentos em domicílio começassem a fazer parte do dia a dia das pessoas. Desde que o Ministério da Saúde baixou uma portaria, em 20 de março, regulamentando o uso da telemedicina durante a pandemia, o atendimento por plataformas digitais tem batido recorde. A Doctoralia, por exemplo, uma das maiores plataformas de marcação de consultas online do mundo, registrou mais de 77 mil agendamentos por vídeo no Brasil, uma média de 1.300 atendimentos por dia, segundo dados publicados em maio.
No topo da lista de especialidades mais procuradas estão psicologia, psiquiatria, ginecologia, dermatologia, urologia, endocrinologia, ortopedia, otorrinolaringologia, cardiologia e neurologia. Além de oferecer o serviço aos médicos premium que já utilizavam a plataforma Doctoralia, a empresa resolveu fornecer o software às instituições do sistema público de saúde interessadas, de maneira gratuita. O município de Pancas, no Estado, é um dos que aderiu ao projeto.
A Distrito Dataminer, responsável pela elaboração de estudos do universo de startups, reuniu dados do SEMrush de visitas nos sites de 732 healthtechs brasileiras nos últimos meses, para compreender como a revolução das healthtechs em meio à pandemia está acontecendo. O estudo mostra que no topo da lista das que mais cresceram está a telemedicina.
Entre as healthtechs, essa foi a categoria que mais se destacou na mídia nos últimos tempos, já que oferece soluções que se encaixam ao momento de isolamento social. A categoria representa 8% das startups de saúde. Apesar de não ser uma constante para todas as startups ou categorias do setor, as healthtechs têm ganhado visibilidade desde o início da pandemia, demonstra a pesquisa. Com soluções digitais capazes de simplificar processos complexos, suas tecnologias cada vez mais ocupam espaço nas rotinas das pessoas, clínicas e hospitais.
Novos tempos
A pediatra e neonatologista Luísa Pires, viu sua rotina ficar bastante intensa desde o início da pandemia. Ela que ainda atende no consultório, em domicílio e passou a usar a telemedicina, acredita que os novos métodos de atendimento vão continuar no pós-pandemia. “As demandas por telemedicina, domiciliar e até do consultório aumentaram muito! Faço uns dez atendimentos em domicílio por semana. No consultório, ainda atendemos, mas com todos os cuidados de higienização, e os horários entre uma consulta e outra bem espaçados. Mesmo depois que essa pandemia se acabe e venha uma vacina, acho que essas rotinas vão permanecer”, avalia.
Luísa, que atende muitas gestantes, observa que a telemedicina é uma solução eficaz para o pré-natal. “Faço a consulta por vídeo com as grávidas no terceiro trimestre da gestação. Como pode ser um bate-papo, não precisa examinar, acho até melhor porque não precisa expor as grávidas a sair de casa e ir ao consultório”.
A neonatologista conta que aumentou muito a demanda de domiciliar para atender os recém-nascidos. “A criança acabou de nascer, e é muito legal que o primeiro atendimento seja em casa, já que o bebê tem de cinco a sete dias de nascimento. É mais cômodo para os pais, que não precisam sair com o bebê e expor a criança a essa pandemia. Levo a balança, régua para ver o comprimento, oriento sobre os cuidados, produtos para tomar banho, remédios para a cólica, troca de fraldas, oriento sobre o sono seguro. Os pais se sentem mais tranquilos depois da minha presença lá. Entro na família, faço junto com eles os cuidados ao bebê. Ter essa disponibilidade ajuda muito as famílias”.
Vale lembrar que a lei que autoriza a telemedicina no país tem valor apenas durante a crise causada pelo coronavírus. Quando a pandemia terminar, o segmento volta a seguir a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), que, publicada em 2002, não prevê a consulta médica a distância. A falta de uma resolução atualizada pode fazer com que o uso de meios de comunicação digital para realização de consultas, solicitações de exames e prescrições médicas seja comprometido.