Por Nicolas Nunes, participante da Oficina de Jornalismo realizada pelo WhpprDocs em parceria com o Sebrae-ES
Ela apontou a desigualdade de circulação e retenção de riqueza entre pessoas negras e pessoas não negras e destacou como o empreendedorismo pode ser estimulado para o combate ao racismo estrutural. De acordo com o IBGE, o salário médio de pessoas brancas é de R$2.999 e o de pessoas pardas é de R$1.719. A remuneração de pessoas pretas é o menor: R$1.673.
Priscila coordena 12 projetos de ação afirmativa, como o “Encontro das Pretas”, é consultora jurídica especialista em Direito Público e Direitos Humanos, pesquisadora e movimentadora da economia criativa afrocentrada e periférica e mestranda em Sociologia Política.
Ainda segundo Priscila, os pretos e pardos são submetidos a preconceito racial quando tentam empreender.
“Eu já tive que mostrar meus documentos três vezes para o gerente de um banco. Ele era a mesma pessoa que abriu a minha conta. Eu sou negra de pele clara, imagina se fosse de pele escura. Ele ainda me questionou o que eu faria com aquele dinheiro. Por vezes, essas instituições negam nosso crédito sem dar explicação, e ficamos sem entender o que está acontecendo”, relatou.
A ativista trouxe ainda outros números, obtidos pelo IBGE, que mostram a dimensão do racismo estrutural no Brasil, e que também apontam como a comunidade negra está trabalhando.
“32% das pessoas pretas no Brasil já tiveram crédito negado sem explicação plausível e 57% declaram que já sofreram preconceito quando tentavam abrir o próprio negócio. Mas 35% das pessoas pretas empreendem por vocação e oportunidade”
Em conversa com o site, Priscila alertou sobre a importância de mudar a mentalidade e parar de apontar os empreendedores periféricos como “empreendedores por necessidade”.
“O empreendedorismo é uma possibilidade para que as pessoas tenham acesso à geração de renda, porque na maior parte das vezes o mercado de trabalho não nos inclui, não nos absorve. Mas a gente não pode pensar que o empreendedorismo negro é um empreendedorismo de necessidade, porque em 2022 já temos muitos empresários negros que começam por oportunidade e também por vocação”, ressaltou.
“Cria” de Coqueiral, orgulho de Gurigica
A empreendedora começou a palestra se apresentando com orgulho: “Eu sou uma mulher negra de pele clara, de 40 anos. Sou natural de Coqueiral de Itaparica, em Vila Velha, e orgulhosa de ser moradora do território da Gurigica, em Vitória”.
E prosseguiu contando o motivo que a fez mergulhar no empreendedorismo: “Eu comecei a estudar porque nada me atingia, eu não me sentia representada e era mais difícil de empreender. Mas uma mulher negra aprende a empreender cedo, a gente troca a roda do carro com o carro em movimento”, disse.
Ela destacou que a maioria dos chefes de família na periferia são mulheres negras empreendedoras, e o País conta com 2,53 milhões de empreendedoras negras. “Isso representa metade das donas de negócios em todo o Brasil. Imagina o impacto positivo que resultaria na capacitação dessas mulheres”, declarou.
O Brasil tem 14,5 milhões de empreendedores negros, que movimentam mais de R$ 288 bilhões por ano, de acordo com a pesquisa A Potência Negra, da Feira Preta, realizada em parceria com o Instituto Locomotiva. Segundo o levantamento, de setembro de 2021, empreender é o principal objetivo para a população negra. E o estímulo ao empreendedorismo passa pela importância de a população negra se ver representada em posições de liderança.
Marcelo Silva, de 31 anos, é doutor em análise institucional pela UFRJ e pós-graduado em Direito Empresarial pela Legale Educacional. Ele também é Community Manager na iniciativa ReFi Spring e fundador da BlackLeadersDAO. A organização tem como objetivo primordial a inclusão e o desenvolvimento de pessoas pretas na “Web3”, um ecossistema de aplicações digitais, e também um novo modelo de negócios voltado para o mundo virtual.
O empresário e inovador explica que a iniciativa surgiu porque um grupo de pretos de diversas nacionalidades enxergou que eram as únicas pessoas negras em um evento no Rio de Janeiro que estavam ali como participantes, e não como prestadores de serviços.
“Eu e alguns colegas pretos de vários países, jamaicanos, brasileiros, norte-americanos e quenianos, estávamos participando da ‘Ethereum Rio’, um evento que reúne pessoas de todo o mundo para discutir blockchain e criptomoedas. No decorrer dos debates e palestras, nós percebemos que éramos os únicos negros que estavam ali como participantes, e não como trabalhadores ou prestadores de serviços. Então nós enxergamos que tínhamos o dever de criar uma estrutura que pudesse abrir portas e construir escadas para que mais pessoas pretas possam frequentar aquele ambiente inovador”, contou Marcelo.
Ele explica que o acrônimo “DAO” significa, em inglês, organização autônoma descentralizada (tradução livre), e é um novo modelo de negócios nativo do ambiente digital da “Web3”.
A DAO impacta positivamente a comunidade negra por meio de indicações de oportunidades de financiamento de projetos de empreendedorismo e de trabalho, e também por meio da inclusão de pessoas pretas em projetos de inovação, como blockchain e outros nativos do meio digital.
“Agora mesmo estou em São Paulo representando a BlackLeadersDAO no evento anual do ‘Me Empodera’, da atleta olímpica Aline Silva. O projeto tem como foco o empoderamento de crianças da periferia por meio de aulas de artes marciais e de inglês. Eu estou aqui para apresentar para essas crianças termos provenientes da ‘Web3’, como ‘blockchain’, ‘ethereum’, ‘bitcoin’, ‘criptomoeda’ e outros. Meu objetivo é apresentar a oportunidade de uma carreira e de uma área de estudos, e também os cuidados necessários ao abordar esses temas”, conta.
Feira do Empreendedor
O Sebrae-ES está realizando a Feira do Empreendedor até domingo, 17 de julho, no Pavilhão de Carapina, Serra, e espera receber 100 mil pessoas nos seis dias de evento. São mais de 100 expositores em 13 mil metros quadrados de estrutura e uma programação voltada para transformar histórias, com soluções, networking e oportunidades de negócio.
De forma gratuita, estão sendo realizadas consultorias, palestras e workshops para potenciais empreendedores, microempreendedores individuais (MEI), empreendedores de microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP).
As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas através do site feiradoempreendedor-es.com.
SERVIÇO
Feira do Empreendedor 2022
Realização: Sebrae-ES
Data: Até 17 de julho
Horário: Terça a sexta, das 14h às 21h; sábado e domingo, das 10h às 18h
Onde: Parque de Exposições de Carapina – Serra/ES
Entrada: gratuita. Algumas atividades necessitam de inscrição antecipada.
Programação completa e inscrições: feiradoempreendedor-es.com.