Por Thiago Borges, participante da Oficina de Jornalismo realizada pelo WhitepaperDocs em parceria com o Sebrae-ES.
Com o turismo de observação de baleias crescente a cada ano, o Projeto Amigos da Jubarte decidiu inovar e desenvolver o aplicativo “Quero Ver Baleia”. Com previsão de lançamento para janeiro de 2023, a iniciativa tem o objetivo de gerar oportunidades aos interessados em praticar o “whale watching” (observação de cetáceos), em uma espécie de marketplace prático, dinâmico e intuitivo para agendar passeios, efetuar pagamentos de forma segura e outras ferramentas virtuais.
O projeto é pioneiro na observação natural de baleias no Espírito Santo e atua para o desenvolvimento de pesquisas científicas, promovendo a conservação dos cetáceos no litoral brasileiro e fomentando as ações de educação ambiental. Desde 2017, a iniciativa já acompanhou mais de quatro mil turistas nacionais e internacionais que foram impactados ao conhecer mais da vida marinha, e a perspectiva é de crescimento para o próximo ano.
“Com essa inovação, miramos em triplicar o número de turistas nacionais e duplicar o número de turistas internacionais”, afirma Thiago Ferrari, diretor do Instituto O Canal e coordenador-geral do Projeto Amigos da Jubarte, Jubarte.Lab e Projeto Golfinhos do Brasil.
A temporada de observação de baleias no litoral do Espírito Santo vai de junho a novembro e quem quer ver de perto as Jubartes ainda em 2022 devem agendar no portal queroverbaleia.com.
TECNOLOGIA EM ALTO-MAR
Os projetos Amigos da Jubarte, Jubarte.Lab e Golfinhos do Brasil têm a tecnologia como um dos principais pilares para as diferentes áreas de atuação. O coordenador dos projetos, Thiago Ferrari, contou que o portal queroverbaleia.com possui mais de 40 mil acessos por temporada, e cerca de 80% das demandas turísticas para avistar baleias no Estado passam pelo portal. A partir dos dados levantados, foi identificada a necessidade do app.
Além disso, é possível destacar ferramentas desenvolvidas a partir do avanço tecnológico que são utilizadas para o monitoramento da vida marinha, como o método inédito elaborado em parceria com o Laboratório de Nectologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) chamado dronemonitoramento. Com a utilização de drones de última geração, é possível obter o mapeamento dos animais em imagens de alta qualidade.
“O material é levado para laboratórios onde são realizados estudos da saúde dos animais marinhos, padrões comportamentais, composição social e possíveis interferências de atividades antrópicas que esses animais sofrem”, contou Thiago. Também é possível realizar o monitoramento a 20 metros de profundidade no mar, com o dispositivo de Monitoramento Acústico Passivo (MAP), que utiliza um hidrofone para captar a vocalização das baleias e golfinhos presentes na região.
Na educação ambiental, é utilizada a gamificação e o ensino a distância, com vídeo-aulas para capacitar os educadores e desenvolver didáticas virtuais com alunos que vão desde o ensino infantil ao ensino médio. O coordenador contou que os métodos são integrados, o que facilita na hora de analisar e obter respostas científicas quanto à riqueza, abundância, distribuição e densidade dos grupos de animais que fazem o uso do habitat no litoral capixaba.
No caso de propagação da consciência ambiental, as informações são traduzidas para uma linguagem mais fácil e acessível que serve de eixo narrativo para a difusão do conhecimento em escolas, faculdades e comunidades. “Até o momento, o projeto capacitou mais de 400 educadores e trabalhou dinâmicas de educação ambiental com mais de 10 mil alunos das redes municipais de ensino público”,pontuou Thiago.
PESQUISA CIENTÍFICA
Criado em 2019 por meio do Jubarte.Lab, Projeto Golfinho do Brasil e com apoio da empresa Vale, o Programa de Monitoramento de Cetáceos do Porto de Tubarão (PMC-PT) é executado durante todo o ano com monitoramento que vai desde o município da Serra, passando por Vitória, Vila Velha a Guarapari, utilizando o dronemonitoramento embarcado e costeiro, o monitoramento acústico e a observação tradicional a bordo.
A pesquisa envolve 12 pesquisadores do Jubarte.Lab e, ao final do período, é gerado um relatório técnico que é compartilhado com órgãos, entidades e empresas competentes relacionadas ao meio ambiente. A soma desses esforços permite que as instituições possam tomar medidas técnicas para diminuir os impactos negativos das atividades humanas nas populações marinhas.
O monitoramento de forma contínua desses cetáceos permite entender melhor quais espécies habitam o litoral do Estado, como vivem e quais riscos correm, bem como proteger esses animais e manter um oceano mais limpo e saudável. “Isso afeta diretamente nossas vidas, já que o oceano é responsável por 70% do oxigênio que respiramos”, destacou Thiago.
ES ENTRE OS MELHORES LUGARES DO MUNDO PARA AVISTAR JUBARTES
Paralelo a isso, a baleia-jubarte tornou-se um ícone cultural, científico, educacional e turístico para o Estado. A partir da iniciativa, é gerada uma série de benefícios socioambientais, seja na efervescência da produção científica, nos trabalhos de educação ambiental para despertar a conscientização coletiva ou na geração de emprego e renda para inúmeras comunidades costeiras através do ecoturismo sustentável.
“Ajudamos a criar um sentimento de pertencimento por parte dos capixabas em relação ao ambiente marinho da nossa costa, e isso é muito significativo para mudarmos a relação regional entre humanos e meio ambiente”, disse.
O coordenador reforçou também que todo o esforço integrado fez com que o ES ficasse recentemente conhecido como um dos melhores lugares do mundo para avistar baleias-jubarte, com uma taxa de avistamento de 100%, colocando definitivamente o Estado na rota internacional do turismo de observação natural de animais marinhos.
O MONITORAMENTO TURÍSTICO
Além de produzir pesquisas, o monitor do Jubarte.Lab garante o cumprimento das legislações vigentes, com a presença de um biólogo/oceanógrafo a bordo das embarcações reforçando mensagens de boas práticas para o avistamento das baleias e transmitindo informações ecológicas com o objetivo de sensibilizar os participantes a bordo quanto à importância da conservação de todo o ambiente marinho.
Todos os anos, entre junho e novembro, cerca de 25 mil baleias-jubartes migram das águas congelantes da Antártida para as águas amenas do litoral do Espírito Santo, para fins reprodutivos. Com isso, as agências são habilitadas todo início de temporada para transmitir os conhecimentos e procedimentos corretos aos mestres de embarcação e guias para que a interação com as “gigantes do mar” ocorra de modo harmonioso, gerando o mínimo de impacto e o máximo de benefícios socioambientais.
Costumamos dizer que só protegemos aquilo que conhecemos. Por isso, a informação levada de forma simples e direta já é o suficiente para despertar o interesse das pessoas e sensibilizá-las da importância ecológica que esses animais têm para o planeta. A partir desse ponto, os participantes se tornam difusores da conservação, nos ajudando a espalhar a mensagem da proteção animal”.
PROJEÇÃO DE FUTURO
A partir deste mês, os municípios de Anchieta e Piúma passam a fazer parte do monitoramento científico de cetáceos. O objetivo também é aumentar a presença de atividades turísticas e de educação ambiental em todos os municípios costeiros de Norte a Sul do Espírito Santo.
O coordenador contou que diversas prefeituras e empresas estão procurando o projeto com o objetivo de levá-lo para diferentes regiões, como é o caso de Niterói, no Rio de Janeiro, que em agosto de 2022 firmou convênio técnico com o Amigos da Jubarte para estruturar e desenvolver o turismo de observação natural em terras cariocas.
“É provável que o projeto que nasceu em Vitória, ES, esteja presente em outros três estados e em mais de 20 municípios das costas Sudeste e Nordeste do Brasil a partir de 2023”, antecipou.