Por Nicolas Nunes, participante da Oficina de Jornalismo realizada pelo WhitepaperDocs em parceria com o Sebrae-ES.
O mercado de produtos orgânicos vive um momento de expansão no Brasil, registrando um salto de 30% em 2020 e crescimento em 12% em 2021. Os dados são da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis) e apontam para uma tendência do consumidor brasileiro, que busca alimentos mais saudáveis e com alto valor nutricional.
E nessa expansão os pequenos produtores rurais contam com o valioso auxílio de startups que conectam o campo às empresas revendedoras ou ao consumidor final, permitindo previsibilidade de plantio e redução de perdas. Uma delas é a capixaba Agrai, recentemente adquirida pelo grupo carioca Orgânicos In Box, que aplica um modelo preditivo a partir de algoritmos para calcular a quantidade necessária a ser produzida, com base na demanda de frutas, verduras e legumes orgânicos.
“O que mais acontece é o produtor plantar e depois ir vender. Mas é fundamental saber, antes da execução, a demanda de cada produto, para aí sim transformarmos essas informações técnicas em plantação no campo”, disse ao WhitepaperDocs José Scardua, cofundador e ex-CEO da Agrai.
Apenas em 2020, mais de 350 toneladas de alimentos orgânicos foram entregues pela empresa, que passou a atuar em todos os estados da região Sudeste.
A startup nasceu como Raiz Capixaba e fazia entrega de cestas orgânicas, até que os fundadores enxergaram uma oportunidade. José conta que ele e o sócio, Flávio Silvério, eram procurados por muitas empresas, mas que nenhuma tinha a organização das informações entre a demanda e a oferta dos produtos.

“Aplicávamos a gestão de relacionamento, ou seja, garantíamos contato com os fornecedores e produtores rurais. Dessa forma, nossos clientes podiam focar no modelo de negócios, porque não precisavam dispender tempo administrando as relações comerciais. A Agrai conseguiu garantir a entrega de mais de 450 toneladas de frutas, verduras e legumes orgânicos, e contávamos com mais de 250 produtores e 138 clientes no portfólio nos últimos dois anos”, afirmou.
Após passar por uma rodada de investimentos em 2021, a Agrai captou R$ 1,2 milhão e foi avaliada em R$ 9,4 milhões.
E a inovação gerada pela startup capixaba será implementada a nível nacional. Enxergando o crescimento da Agrai, com a qual mantinha um relacionamento comercial, a Orgânicos In Box efetuou a compra pretendendo expandir negócios e fortalecer operações, como afirma Filipe Aguiar, diretor financeiro da startup carioca.

“A compra foi uma oportunidade de unir forças. Enxergo que, agora, podemos ganhar escala de operação e sinergia comercial”
Filipe Aguiar, diretor financeiro da Orgânicos in Box.“Observamos como o José e o Flávio estruturaram a rede de produtores no Espírito Santo, em especial no polo de Santa Maria de Jetibá. Então a compra foi uma oportunidade de unir forças, de concretizarmos, juntos, grandes operações. Enxergo que, agora, podemos ganhar muita escala de operação e sinergia comercial”, explicou Filipe.
A Orgânicos in Box é uma plataforma digital que conecta pequenos produtores rurais a consumidores urbanos. Criada em 2014 na cidade do Rio de Janeiro, a startup expandiu as operações para a Grande São Paulo em 2021.

“Oferecemos também assinaturas de produtos orgânicos, o que é uma forma de manter a geladeira abastecida e se alimentar bem. Esse modelo beneficia o produtor rural porque garante previsibilidade para a produção, o que permite que consigamos auxiliar no planejamento do plantio”, explicou Filipe.
Ainda segundo o diretor financeiro, existem conversas em andamento com outros empreendimentos no setor de orgânicos, principalmente na região Sudeste: “Fizemos uma rodada de captação de recursos em 2021 e obtivemos R$ 2,5 milhões, e uma avaliação do valor da empresa em R$ 22 milhões”, afirmou.
Após a concretização da operação de compra, a Agrai será completamente absorvida pela Orgânicos in Box, que pretende, futuramente, construir galpões e centros de distribuição no Espírito Santo, expandindo o modelo de negócios que possui no Rio de Janeiro e em São Paulo.

“Eu acredito nesse movimento de consolidação de mercado, então nós fazemos uma venda para que toda a cadeia tenha um resultado melhor do que teria se trabalhássemos separadamente. A venda existe para otimizar os resultados financeiros e operacionais”, afirma José Eduardo, ex-CEO da Agrai.
A negociação da aquisição da startup capixaba foi intermediada pela V3 Capital, e, apesar de não haver informações precisas a respeito de uma possível fusão das duas marcas, a estrutura organizacional da Agrai já está sendo incorporada à Orgânicos in Box.
Aumento do consumo de orgânicos no pós-pandemia é oportunidade para startups do setor alimentício
No Brasil, existem 5.368 startups, sendo 497 categorizadas como Food Techs, as startups do setor alimentício. Cobi Cruz, diretor da Organis, afirma que o mercado de orgânicos quadruplicou as vendas entre 2003 e 2017, e cresceu 15% em 2019.
“O aumento de 30% conquistado em 2020 aponta uma tendência na qual a alimentação saudável, a sustentabilidade e as relações de produção socialmente mais justas estão ganhando terreno no conjunto da sociedade”, enfatizou.
Scardua afirma que o ponto de venda mudou com a chegada da Covid-19. “Antes da pandemia, as pessoas iam ao mercado e compravam orgânicos presencialmente. Com o isolamento social, o consumidor acabou mudando o canal de compra, migrando para o online ou delivery”, explicou. Essa mudança de comportamento e o acesso à tecnologia, que permite venda em escalas maiores, podem ter colaborado para a ampliação do consumo de orgânicos a partir de 2020.