Por Nicolas Nunes
A planta da cannabis foi introduzida no Brasil no século XIX, já foi utilizada para a confecção de tecidos, chás, remédios e, com o passar dos anos, acumulou centenas de estudos acadêmicos tratando dos benefícios de seu uso – que agora se estendem também aos animais de estimação.
A startup capixaba CBD Express já atendeu mais de 2 mil famílias importando produtos à base de cannabis e prestando assessoria médica. Medicamentos à base da planta medicinal também garantem a redução de inflamações e de transtornos comportamentais em pets, além de combater sintomas causados pela quimioterapia, dando suporte a métodos convencionais.
“Os tratamentos integrativos são muito novos na medicina veterinária. Há a possibilidade do uso de acupuntura, ozonioterapia e fitoterapia, que é a utilização de plantas medicinais para tratar os pets, e é aí que entram os extratos da cannabis. Outro exemplo é a Boswellia Serrata, uma erva que age como anti-inflamatório natural”, explicou Júlia Nimrichter, veterinária que utiliza a fitoterapia em seus tratamentos.

A legislação brasileira permite o tratamento com derivados da maconha quando não é possível alcançar bons resultados com os tratamentos alopáticos, que são os métodos comuns. Alopático vem da fusão de duas palavras gregas: “állos”, que significa outro ou diferente, e “pathos”, que significa sofrimento. Portanto, alopático traz o significado de “cura pelo contrário”, conceito utilizado quando são receitados remédios para combater sintomas latentes, como inflamações e vômitos.
Os tratamentos integrativos vão além dos sintomas físicos, cuidando também dos sintomas emocionais, visando tratar o paciente como um todo. É possível tratar desde distúrbios comportamentais a quadros mais graves, como convulsões e efeitos colaterais associados à quimioterapia.
“Há mais de um ano eu prescrevo derivados de cannabis e enxergo resultados, principalmente em casos de alergias e inflamações. Nunca vi piora de um quadro devido ao uso de produtos à base de cannabis. O preconceito também vem diminuindo. Atualmente, tutores têm procurado os tratamentos integrativos pois percebem que alguns tratamentos alopáticos não dão conta de ajudar o pet, precisando de um suporte a mais”, explicou a veterinária.
Meta de chegar a 12 mil pacientes em 2023
O CEO da CBD Express, Rômulo Alves, contou que a meta da empresa capixaba, fundada em 2020, é chegar ao final de 2023 prestando serviços a 12 mil pacientes por ano.

“Oferecemos os serviços de distribuição de medicamentos à base de cannabis, que são importados, de assessoria medicinal e de divulgação de informações a respeito do tratamento com derivados da planta da maconha. Temos uma linha completa de produtos – óleos, pomadas e soluções em pasta que podem ser aplicadas via oral. Para ter acesso às nossas mercadorias, é necessário que o cliente apresente prescrição médica, porque só o médico pode indicar a necessidade do tratamento”, explica Rômulo.
Em entrevista ao WhitepaperDocs, Rômulo explicou que a extração de canabidiol (CBD) e de outros derivados pode ser realizada no Brasil, mas o cultivo da planta para fins industriais ainda é extremamente restrito.
Algumas associações, como a Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (Abicann), possuem habeas corpus ou mandados de segurança para o cultivo da cannabis, sendo que a quantidade permitida para o plantio é definida na expedição do documento. As empresas que desejam importar os insumos necessários para o cultivo precisam ser categorizadas como indústrias farmacêuticas e, para fins de registro e fiscalização em território brasileiro, a cannabis é equiparada a um medicamento controlado.
O Espírito Santo possui um contingente de até 800 mil pacientes, afirma o CEO da startup capixaba, único empreendimento de cannabis no Estado e que atende pacientes de todo o País com a importação de produtos canábicos para quem é registrado na Anvisa.
“Nossos produtos principais são os óleos, e existem dois tipos: os isolados e os ‘full spectrum’. O isolado é destinado para pacientes idosos, crianças muito novas com o organismo sensível e determinados pacientes com autismo. Já o óleo ‘full spectrum’ é aplicado de forma mais abrangente, em pacientes com mal de Parkinson, Alzheimer e até em pessoas com ansiedade aguda e generalizada”, detalha Rômulo.
Mercado consumidor capixaba cresce
A população de pacientes que fazem tratamento com derivados da cannabis no Espírito Santo é composta principalmente, segundo Rômulo, por pessoas com autismo, ansiedade generalizada e em nível alto, mal de Parkinson, epilepsia, esclerose lateral amiotrófica e Alzheimer.

“Estamos notando um aumento do número de profissionais da Medicina fazendo a prescrição dos nossos produtos e muito disso se dá pelo aumento do número de artigos científicos que tratam dos benefícios da cannabis. O Espírito Santo tem menos médicos prescrevendo produtos canábicos do que Rio de Janeiro ou São Paulo, mas ainda assim o número de profissionais interessados está crescendo”, disse.
A pessoa interessada nos tratamentos à base de derivados de cannabis precisa da indicação médica e de liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que controla quem são os pacientes, quais as quantidades necessárias de remédios e quais as marcas solicitadas.
Para obter a indicação de um médico e a solicitação da liberação de registro com a Anvisa, basta entrar em contato com a CBD Express, que conta com o perfil @cbdexpressbr no Instagram.
“Indicamos médicos que realizam teleatendimento. Quem tiver qualquer dúvida a respeito do potencial da cannabis como planta curativa pode entrar em contato com a nossa equipe e pesquisar sobre o assunto. A pessoa vai se surpreender e o preconceito irá se esvair, porque existe muito material científico que mostra a utilização da planta da maconha na medicina e também na indústria”, declarou Rômulo.
Benefícios são muitos e preconceito segue como maior obstáculo
Apesar de ajudar milhares de pessoas e impulsionar a ciência e a economia, o preconceito é o que mais impede a divulgação aprofundada dos benefícios do uso medicinal de derivados da cannabis.
Matheus Campos é consultor científico da CBD Express, bacharel em Ciências Biológicas, mestre em Biotecnologia Vegetal e doutorando em Ciências Farmacêuticas. O cientista explicou em detalhes como acontece a interação do canabidiol com o corpo humano.

“Para entender o benefício do canabidiol, é importante esclarecer a presença do sistema endocanabinóide no corpo humano, responsável pelo equilíbrio através de processos fisiológicos. Ou seja, o CBD interage com o corpo humano a partir de receptores produzidos pelo organismo. Quando se encontram, ocorre uma interação que proporciona propriedades anti-inflamatórias, neuroprotetoras e antiepilépticas” disse.
O doutorando enfatizou que o CBD não gera efeitos colaterais, diferentemente do delta-9-hidrocanabinol (THC), que é a substância psicoativa presente na maconha, ou seja, a responsável por deixar o usuário inebriado.
Rômulo Alves, CEO da CBD Express, contou ao WhitePaperDocs que já participou de debates que trataram do uso medicinal da cannabis na Câmara Municipal de Vitória e na Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales). Nas ocasiões, estavam presentes médicos, mães de pacientes e a equipe da startup, que discursaram sobre os extratos medicinais da maconha.
