Por Ana Clara Gonçalves e Paulo Victor Ribeiro, participantes da Oficina de Jornalismo realizada pelo WhitepaperDocs em parceria com Sebrae/ES, MCI e FindesLab
A inteligência artificial (IA) não é uma onda, é um tsunami. Nada que tenha surgido nos últimos séculos tem o impacto e a abrangência da IA, mas se não houver uma mudança profunda na educação, ela não vai ser aproveitada em todo seu potencial. A reflexão é de Walter Longo, especialista em inovação e transformação que abriu a programação de palestras no primeiro dia do ESX 2024.
O evento está sendo realizado até domingo (16), na Praça do Papa, pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae/ES) e Mobilização Capixaba pela Inovação (MCI), com correalização da Fundação de Apoio à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes) e do governo do Estado do Espírito Santo.
De acordo com Longo, há três medidas fundamentais que devem ser tomadas para que a sociedade aproveite o mar de oportunidades que é a inteligência artificial. A primeira delas é trazer a Filosofia de volta ao ensino básico.
“Filosofia te ensina a perguntar, e daqui para frente perguntar vai ser mais importante do que responder”, disse.
A segunda coisa é trazer de volta a curiosidade nas pessoas. “E o ensino básico, como hoje é feito, não estimula a curiosidade. Nós nascemos com curiosidade, mas depois a educação formal vai destruindo. Sem curiosidade, as pessoas ficam interessadas só em bobagens e banalidades, que é o que está acontecendo hoje”, avalia.
E, por fim, é preciso exercitar o cérebro, assim como se exercita o corpo.
“Fazer exercício cognitivo é tão importante quanto fazer exercício físico. Nós já nos conscientizamos que depois de inventado o automóvel, que evitou de a gente andar muito, frente a uma vida sedentária, nós precisamos fazer exercício físico. E toda a facilidade que o mundo digital trouxe, de não precisar mais fazer cálculo porque tem a calculadora, de não precisar guardar mais número de telefone na cabeça porque tem o celular, tudo isso está gerando uma necessidade de a gente fazer exercícios cognitivos. Normalmente as novas gerações acreditam que não precisam saber nada porque, quando precisar, está no Google. E realmente está lá. Só que se você não embarcar o conhecimento no seu cérebro, o resultado disso é que você não tem ideias, insights, não forma sinapses. Nós estamos num momento de inteligência artificial e burrice humana simultaneamente. Nós estamos com problema de indigência cognitiva crescente por falta de fazermos exercícios com o cérebro da mesma forma que fazemos com o corpo. Ler meia hora por dia ajuda a treinar a imaginação e a adquirir extensão vocabular”, explica.

Isso porque a inteligência artificial funciona melhor a partir de comandos precisos. “A inteligência artificial exige capacidade de expressão e vocabulário. Se uma pessoa não souber a distinção entre enfrentar, confrontar e afrontar, ou a diferença entre teto e abóbada, não sai o desenho que ela quer no Midjourney. Há uma enorme distância entre o que a gente fala e o que as pessoas ouvem. É preciso ter empatia digital: habilidade de descrever e detalhar o que está na sua cabeça para que a outra pessoa, ou a máquina, receba na cabeça dela. Cada palavra que eu colocar na frase tem um impacto diferente na cabeça ou na máquina”, comenta.
“A turma do ‘tipo assim’ não está preparada para a nova era. Pesquisa recente feita com alunos de high school nos Estados Unidos mostra que houve uma redução da extensão vocabular em 40% desde a década de 1950. Trata-se de uma crise dramática que se avizinha para as novas gerações. A inteligência artificial perde muito da produtividade com o reducionismo vocabular”
Walter LongoEle afirma que a grande revolução não é a adoção de novas ferramentas, e sim a adoção de novos comportamentos, e a forma como se utiliza a inteligência artificial pode levar a ganho de produtividade e de mais tempo livre no dia para nos dedicarmos a sermos humanos. “A inteligência artificial pode comparar meu exame com milhares de outros ao redor do mundo em segundos. Se um médico não precisa perder tempo fazendo um laudo que a IA pode fazer tão bem quanto ele, ele tem mais tempo de me perguntar como eu estou me sentindo, como o diagnóstico tem afetado minha família…”, exemplifica.
Sobre o temor de que a inteligência artificial vai substituir homens e mulheres, Longo acredita que “por causa da IA nenhum ser humano vai ser melhor que uma máquina, mas nenhuma máquina vai ser melhor que um ser humano com uma máquina. Para os otimistas, é um processo de adição, e não de substituição”.
Segundo o Fórum Econômico Mundial, até 2027 a automação eliminará 85 milhões de empregos e criará outros 92 milhões de novas funções. “Milhões deixarão de ser empregados para se tornar empreendedores. E o Sebrae se transforma em uma ferramenta estratégica de Estado. Nesse cenário, o empreendedorismo é uma questão de segurança nacional e política de estado”, afirma.
Ao WhitepaperDocs, Walter Longo falou sobre a importância de eventos como o ESX para disseminar a inovação na sociedade.
“Todo evento traz a possibilidade de a gente estimular conhecimento. Um evento como esse coloca frente a frente milhares de pessoas para ouvirem o que vem por aí. Como eu falo sempre, a nossa vida, o nosso dia a dia é normalmente dividido entre pendência e tendência. As pendências são tantas que a gente não foca nas tendências. Por isso um evento que durante três dias foque nas tendencias é fundamental”, avalia.
Longo finalizou sua palestra afirmando que “o Espírito Santo é um Estado que vibra com inovação e que tem tanta gente interessada, e por isso interessante, conosco hoje”.
A estudante de jornalismo Marina D’Angelo, presente na palestra, compartilhou sua visão positiva sobre o conteúdo apresentado. Ela considerou as discussões relevantes e aplicáveis ao contexto acadêmico e profissional. Marina fala sobre a importância das ferramentas digitais e da gamificação no ambiente educacional, mencionando que essas inovações tornam o aprendizado mais dinâmico e personalizado. Contudo, ela também destacou a necessidade de garantir que todos tenham acesso a essas ferramentas e que os professores sejam capacitados para utilizá-las eficazmente.
PALCO START
O Palco Start recebeu a palestra “Edutechs – Transformando a educação com a Inteligência Artificial: passando por casos práticos, impactos e perspectivas futuras”. Na apresentação, Fernando Wagner da Silva, head de Venture Capital da Crescera, defendeu a implementação da IA na educação brasileira como forma de democratização.
“Acredito que, por definição, toda tecnologia tende a democratizar o acesso à informação”
Fernando Wagner da Silva, head de Venture Capital da Crescera.Para Fernando, o ESX é um evento de grande valor, pois democratiza o acesso à inovação para todos, permitindo troca de informações e experiências. “Isso é maravilhoso e inspira muito as pessoas a continuarem buscando formas para democratizar o acesso à tecnologia e informação”, comentou.
Além de promover a democratização, o evento amplia o acesso à informação e inspira o público participante. “Um aluno que está começando, enxerga quem está palestrando, as tecnologias e os conceitos apresentados e pensa ‘Esse é o caminho que eu estou seguindo. Esse é o caminho certo’. Então, eu percebo um mega valor nisso”, relata Fernando.
Dessa maneira, o palestrante afirma que a tecnologia vem para ajudar, mas que se torna necessário desmistificar visões deturpadas. “O que a gente está vivendo agora é uma nova revolução industrial. Alguns empregos ultrapassados vão desaparecer, mas as pessoas vão ter toda informação e tecnologia para se prepararem novamente para a nova leva de empregos mais modernos baseados nas tecnologias surgidas”, completou.
Ainda, fazendo uma comparação histórica com a revolução industrial, Fernando Wagner mostrou que a tecnologia serve como grande ajuda à sociedade. “Podemos entender que a revolução tecnológica veio para ajudar todo mundo. Hoje é possível acessar, por exemplo, cursos de Harvard pela internet. Cinquenta anos atrás isso era impossível”, concluiu.
SERVIÇO
ESX 2024 – Espírito Santo Innovation Experience
Local: Praça do Papa, Vitória, ES
Data: sábado (15 de junho), das 9h às 21h; e domingo (16 de junho), das 9h às 20h.
Entrada gratuita
Programação completa e inscrições: esx.com.es