Por Joanna Ferrari
Conseguir se inserir e permanecer no mercado de trabalho em tempos de transformação em alta velocidade é um desafio tanto para os jovens quanto para os profissionais mais experientes. Milhões de pessoas estão perdendo postos de trabalho para a automação e precisam ser retreinadas para ocupar os novos cargos que estão sendo criados. E o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) no Espírito Santo voltou seu foco para a inovação, como afirmou o diretor regional da instituição, Richardson Schmittel, em entrevista exclusiva ao WhitepaperDocs.
“Nossa discussão foi como inovar, como incluir e incluir quem. Estamos revisitando e revisando todo o portfólio do Senac para que essa oferta de curso seja bem aderente ao que o comércio precisa hoje, num momento que existem muitas vagas de trabalho disponíveis para as pessoas, mas existem poucas pessoas qualificadas”, afirmou.
O diretor detalhou ainda o recém-lançado programa Ser Senac, com qualificação profissional gratuita para pessoas em vulnerabilidade e grupos minorizados, direcionado a mulheres, comunidade LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência, em vulnerabilidade social, em situações de rua, com restrição de liberdade ou egressos do sistema prisional, entre outras. O desafio é acessar essas pessoas.
“Quem são essas pessoas que podem fazer esses cursos que não sonham em ter um emprego formal, não sonham em se qualificar e enxergam que é muito difícil acessar algumas oportunidades? Nós definimos como inovação social a forma de buscar essas pessoas e fizemos parcerias com instituições”, explicou.
Confira:
– O Senac voltou o foco para a inovação na qualificação e nas conexões importantes que precisam ser feitasentre a instituição e seu público. O que está sendo feito nesse sentido?
Richardson Schmittel, diretor regional do Senac ES – O Senac Espírito Santo está passando por uma transformação, uma nova gestão, e estamos voltando aos princípios, revisitando a estratégia e a missão dele. A missão do Senac é educar para o trabalho de forma inovadora e inclusiva.
Nossa discussão foi como inovar, como incluir e incluir quem. E isso tem duas linhas no Senac hoje. A primeira linha, de forma inovadora, está relacionada a novas tecnologias, novos padrões de consumo, novos serviços,essa dinâmica do mercado, das empresas de comércio, serviço e turismo, buscando novas alternativas para o mercado consumidor. Isso envolve tecnologia, inteligência artificial, experiência de consumo online, experiência de consumo às vezes tradicionais que estão ganhando força, por exemplo, o turismo de experiência, que é voltar para as raízes do consumo.
Essa parte que a gente fala de inovação por si só, nós temos uma iniciativa de ouvir muito o mercado e estamos revisitando e revisando todo o portfólio do Senac para que essa oferta de curso seja bem aderente ao que o comércio precisa hoje, num momento que existem muitas vagas de trabalho disponíveis para as pessoas, mas existem poucas pessoas qualificadas.
A outra camada, que é educar de forma inclusiva, nós fizemos a discussão no sentido de quem nós queremos incluir? Quem são essas pessoas que podem fazer esses cursos que elas não sonham em ter um emprego formal, não sonham em se qualificar e enxergam que é muito difícil acessar algumas oportunidades? Nós definimos como inovação social a forma de buscar essas pessoas.Então criamos o Ser Senac, que trabalha com grupos prioritários, que são os jovens, que são os idosos, que são as pessoas em vulnerabilidade social, como por exemplo pessoas do sistema presidiário, em situação de rua, mulheres que não conseguem acessar alguns tipos de emprego por causa de questões socialmente construídas ao longo do tempo. Por exemplo, curso para mulheres na área de tecnologia, entre outros.
O Senac está trabalhando nessas duas vertentes, uma da parte da tecnologia em si, da inovação, e outra inovando de maneira social para que mais pessoas busquem esses cursos e preencham essas vagas que estão disponíveis no estado do Espírito Santo.
– Justamente quem geralmente tem muito poucaoportunidade de qualificação e inserção no mercado.
Porque hoje aqui no Estado nós temos muitas oportunidades de qualificação, mas ter pessoas que sonham com isso está sendo um desafio, porque com o passar do tempo boa parte da população ficou silenciada e invisível. Algumas são invisíveis até nas estatísticas. Se você olhar 5% de desemprego formal, 5% de pessoas que estão buscando emprego hoje. Mas existe 30%, 40% da população que nem busca emprego mais, já desistiram. Mas as vagas estão aí, a gente precisa acessar essas pessoas.
– E quais são as estratégias para chegar neste público? Que é um público que geralmente não tem acesso a uma internet, que mora em locais mais afastados.
Nós temos duas estratégias. Uma está relacionada a capilaridade. O Senac está abrindo novas unidades e investindo em unidades móveis. Nós vamos para cinco unidades móveis esse ano, ou seja, carretas que eu consigo levar para qualquer cidade. E temos um plano até 2030 de abrir mais unidade físicas do Senac também. Esse ano inauguramos uma em Cariacica.
Mas além dessa capilaridade física, nós precisamos de uma penetração social. O que significa isso? Acessar essas pessoas. Porque às vezes existe a unidade física, mas elas não buscam o Senac. Então agora o Senac busca essas pessoas. E como a gente faz isso? Por meio de tecnologia social, utilizando parcerias.
E essas parcerias são instituições que têm legitimidade em algumas pautas e o Senac busca essas instituições para fazer esse link entre as pessoas que precisam. Por exemplo, hoje nós temos parcerias com o sistema prisional, com o Ministério Público Estadual, com a associação Gold, que é voltada para os direitos humanos, temos parceria com o Sindicato de Bares e Restaurantes, temos parceria com a Action, que é a associação de empresas de tecnologia da informação. Nós buscamos parceiros para ter acesso a outros públicos, e isso eu acho que é a diferença que o Senac está conseguindo construir hoje.
– O Ser Senac iniciou quando?
O Ser Senac está consolidando uma estratégia que foi iniciada dois anos atrás. Ele ganha nome hoje, mas já passaram mais de cinco mil pessoas pelo Ser Senac.
Hoje nós temos o nome Ser Senac, essa iniciativa decursos com recorte social, recorte de gênero, raça, etnia, deficiência, entre outras coisas. Mas dentro das iniciativas,vão surgir muitas outras. Porque a sociedade muda e as necessidades também.
– Atualmente são quantas pessoas fazendo essa qualificação?
Todo o programa de gratuidade Senac pode ter vagas destinadas ao Ser Senac. Eu estou falando aqui de 7 mil pessoas por ano. Não são cursos específicos, são vagas dentro dos cursos já existentes.
– Qual é o índice de empregabilidade dessas pessoas em vulnerabilidade?
No Senac, 70% das vagas são gratuitas. E nós temos um índice de inserção produtiva de 85%. Ou seja, 85% das pessoas que passam pelo Senac, se você ligar para ela depois de seis meses, ela está trabalhando. É um índice altíssimo. E o que estamos buscando agora é incentivar o trabalho formal. O formal é carteira assinada, é mercado de trabalho nas empresas do Espírito Santo que precisam crescer para a economia girar de uma maneira mais sustentável. Porque muitas delas podem estar trabalhando,mas podem estar num emprego precarizado, podem estar trabalhando informalmente, trabalhando em formato de microempreendedor individual quando na verdade ela não tem uma empresa, ela só está vendendo a mão de obra dela. E o Senac está investindo nessas carreiras mais longas, duradouras, com carteira assinada.
– Com os avanços da tecnologia, são milhões de pessoas que precisam ser retreinadas para continuar ocupando os espaços de trabalho, porque alguns postos vão ser extintos, mas outros vão sendo criados. Como o Senac está atuando para buscar essas pessoas que estão perdendo empregos, sendo substituídos por automação, inteligência artificial etc, para retreinar essas pessoas e reinserir em empregos que estão sendo criados?
Nós temos dois movimentos na sociedade. O primeiro é que a população está envelhecendo, e no que ela está envelhecendo, estão entrando menos jovens no mercado de trabalho e os níveis de produtividade estão tendo que aumentar. Então o jovem que entra no mercado tem que produzir mais. E a pessoa que nós chamávamos antes de idoso, está tendo que trabalhar mais tempo também. No que ela precisa trabalhar mais, ela vai passar por mais momentos de aprender durante a carreira. Hoje uma pessoa de 65, 70 anos, que no passado já teria cinco, 10anos de aposentado, ela está iniciando nova carreira. Só que tudo que ela aprendeu na carreira dela pode não ser válido para começar uma nova carreira hoje. Porque a sociedade mudou, a economia mudou e as tecnologias surgiram e mudaram a forma de trabalhar. Esse é um aspecto: a população envelhecendo mais, ela precisa aprender a aprender várias vezes.
E o jovem também precisa ser um pouco mais flexível eresiliente em relação à carreira do que era no passado. Tínhamos no passado o sonho da carreira de entrar numa empresa e trabalhar muitos anos, mas hoje isso não está tão presente no mercado atual. Hoje você inicia uma carreira e essa carreira é extinta rapidamente por causa de todo o desenvolvimento tecnológico. O jovem também está precisando se reinventar. E se reinventar no momento em que as carreiras tradicionais, as universidades, elas não mudaram. Elas são as mesmas até hoje e existe um fluxo muito complexo e demorado para mudar uma carreira universitária, devido a toda regulação. Os cursos mais curtos, como do Senac, podem ajudar esse jovem que segue uma carreira tradicional, faz um curso tradicional, mas precisa se adequar a cada dois, três anos para as novas tecnologias que estão surgindo.