Quilombolas do território do Sapê do Norte, que abrange os municípios de Conceição da Barra e São Mateus, no Norte do Espírito Santo, criaram a startup Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA), para vender produtos da agricultura familiar em diferentes regiões do Estado, incluindo a Grande Vitória. Inicialmente, são seis famílias quilombolas fornecedoras dos produtos, que atendem lares capixabas e programas governamentais, e a ideia é ampliar a quantidade de produtores e clientes, além do desenvolvimento de um aplicativo para facilitar as aquisições.
As famílias são moradoras das comunidades de Linharinho e Angelim I (de Conceição da Barra), e Córrego Santaninha e Nova Vista (de São Mateus). Entre os produtos vendidos, estão produções da estação, englobando folhas, como alface, couve, rúcula, plantas alimentícias não convencionais; além de frutas diversas e produtos como farinha, beiju e mel.
As comunidades vendem seus produtos para iniciativas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que são destinados para a merenda escolar, e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que realiza compra direta dos agricultores para pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional, para a rede socioassistencial, equipamentos públicos de segurança alimentar e nutricional, e para a rede pública e filantrópica de ensino.
De acordo com o coordenador da CSA, João Batista, as comunidades quilombolas querem ampliar o público, atingindo famílias da Grande Vitória e de outras cidades capixabas, o que é possível com a startup. “Muitas vezes as pessoas querem a produção quilombola, mas não sabem como ter acesso. É um produto diferenciado, tem um certo amor, um carinho, principalmente quando é manipulado, como o beiju, paçoca e licor, pois é uma forma de manter a cultura viva, garantir a sustentabilidade das famílias e proteger territórios”, pontuou.
Segundo o coordenador da startup, os interessados em adquirir não são chamados de consumidores ou compradores, mas de coagricultores, pois contribuem para o desenvolvimento da agricultura familiar quilombola.
Como comprar?
Para ter acesso aos produtos, a pessoa contribui com o valor mensal de R$ 100,00. Assim, ela receberá de sete a 10 itens. A proposta, conforme contou João Batista, é desenvolver um aplicativo por meio do qual as pessoas possam fazer as solicitações – por enquanto, o contato é por meio do WhatsApp (27) 99631-7841, além de criar possibilidades de contribuições mensais nos valores de R$ 200,00 para aquisição de 10 a 16 itens, e de R$ 280,00, de 16 a 21 itens.
Criação
A startup foi criada em julho deste ano, por meio de um projeto do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), onde os quilombolas firmaram também uma parceria para o transporte dos produtos. A instituição de ensino pega os produtos nas comunidades, leva para São Mateus e, de lá, os próprios quilombolas encaminham para o campus da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde os coagricultores pegam as encomendas. A expectativa, segundo o coordenador da startup, é com o crescimento, criar uma nova logística que possibilite as entregas nas casas.
Outro plano para o futuro é ampliar o número de famílias quilombolas no projeto, abarcando mais comunidades do Sapê do Norte e, até mesmo, de outras regiões do Espírito Santo. “Para isso, é importante que a cidade entenda que é preciso fortalecer a agricultura quilombola, que não causa prejuízos ambientais, sociais e culturais”, contou Batista.